sábado, 25 de outubro de 2008

Pequenos pedaços de mim

Tive uma ex-namorada. Devia dizer que a tive ou que a tenho? Será que as ex-namoradas também se têm, no presente, como resultado do que já foi? Eu sinto que sim, pelo menos. Tive-a de um maneira que não posso voltar a não a ter. Foi minha - e eu dela - de uma forma que faz que ela esteja para sempre comigo, mesmo que eu não queira (e não queria mesmo, gostava de ser capaz de destilar todo o meu sistema, com uma daquelas máquinas que há para purificar o sangue só que para a alma. Curiosamente, a Vida parece ser uma máquina dessas). Houve uma ex-namorada. Não, houve também não está bem.

Não posso julgar o que passou com os tempos verbais de hoje. Têm de ser os tempos verbais justos, do tempo dela. Sem a ter tido, não seria hoje quem sou, não teria aprendido com a experiencia de a ter, as coisas que eu antes dela não tinha e que tenho já sem a ter. Ela pode ter feito mais estragos que coisas boas, mas foi assim como um desbastar do calhau antes de começar a escultura, e alguém tem de fazer esse trabalho. Foi ela. Prestemos-lhe essa honra. Aprendi muito com ela. Tenho uma ex-namorada.

Parece que já não namoramos há muito tempo. De facto já passou algum tempo. Mas ela ainda tem coisas minhas na casa dela. Com que coragem é que eu lhas posso pedir (ou de que serve pedir) se eu sei que ela as tem porque quer ficar com um bocado de mim para sempre?

Eu sei que ela nunca me vai poder devolver aquelas lágrimas que me tirou, porque também não as tem. Lágrimas são sempre a fundo perdido.

Mas será que eu sou mesmo fútil ao ponto de ser capaz de lhe pedir que me devolva os meus livros, discos e filmes? São só coisas, mas sinto que se lhas tirar é como se lhe tirasse uma costela. Ela quer tê-las como se fossem um relicário de mim, eu sei. Só que eu não quero os meus livros de volta para apagar o passado. Quero-os só porque são meus, e o passado está dentro da gente, os livros são para ser lidos e aposto que ela não os lê. Mas será que são realmente meus? Talvez sejam algo que perdi quando, ao pertencemos um ao outro, na mistura de um com o outro e na separação e reconstrução de novo dos dois sozinhos, em tigelas separadas depois da receita estar pronta. Será que os meus livros são como aqueles tesouros que se perdem nos naufrágios?

Em todo o caso, ganhei e perdi muito mais com essa relação que DVDs. Perdi a minha ingenuidade (levou uns socos valentes) e a minha inocência não ficou intacta (está hoje suspensa num arame de trapezista que lhe dá um aspeto muito mais poético). Em compensação, ganhei um armamento de Rambo para resistir às agressões emocionais. Hoje mato víboras com passos de dança e afasto demónios com expressões solenes no Bairro Alto.

É por isso que me parece de uma grande futilidade estar a falar de livros, discos com música e com filmes a esta hora. São o menos importante de tudo isto. E em todo o caso não é tão fútil como se falasse no dinheiro que gastei com ela. Porque o dinheiro não existe, é muito feio misturar dinheiro e amor nas mesmas frases. São dois assuntos que não se podem misturar. Um desrói o outro.

Estes objetos sagrados não são como dinheiro. São pedaços de mim que ela tem em seu poder e que existem. Têm uma história.

Eu nunca lhos dei. Mas dei-me a mim e se já foi muito feio pedir-me de volta, porque quem dá não tira. Não posso voltar a fazê-lo. Em todo o caso, há mais pedaços de mim aí espalhados pelo mundo (alguns bem espalhados, aliás, alguns que quando os dei foi para nunca os ter de volta e assim é muito bonito, assim não há melhor coisa na vida). Não quero recolher tudo o que é meu e anda aí no mundo. É bom espalharmo-nos. Se pudesse, deixava um livro a cada pessoa que estimo a cada encontro. Adoro dar prendas. É sempre bom aprendermos a libertarmo-nos de nós próprios.

Exploração divina

Vi num programa de televisão que alguns tipos de seguros têm uma cláusula em letras pequeninas que diz "Não cobre actos de Deus".

Bolas, realmente não há direito. Por actos de deus, referem-se a tufões que possam cair em cima da nossa casa, ou a tremores de terra. Que visão do mundo esta em que só os desastres naturais é que são Deus? Fico entristecido quando vejo que há pessoas - isto é, civilizações inteiras (porque para compreender determinada civilização, não há melhor que olhar para a papelada das suas seguradoras) - dizia eu - civilizações para quem Deus existe, mas não é mais que um requintado anarquista fazedor de maremotos.

Hoje, Deus não está morto, mas já não é o Velhinho de Barbas Brancas no Céu, é o Velho de Barbas Brancas à porta do Metro na estação da Baixa-Chiado, de muletas a gritar com um braço no ar Panfleto Anarquista! (que vi uma vez há cerca de cinco anos atrás e nunca mais).

Ao mesmo tempo, fico encantado com o pudor religioso com que as seguradoras se recusam a deixar o cliente fazer dinheiro à custa do senhor. Parece-me muito nobre. Apostar a sorte das pessoas sim, mas é melhor não fazer apostas com Nosso Senhor, que nunca se sabe, ele tem vantagem, e pode entrar no jogo à séria. Exato, deve ser isso então. Não fosse deus por-se para aí a fazer seguros, a rebentar com os bens e a lixar as seguradoras. Estes tipos são espertos.

Ao mesmo tempo, será que devo respeitar um negócio cuja prosperidade depende de deixar Deus de fora?

O regresso ou O Napoleão dos blogues

Como se isto fosse um livro do nosso saudoso Machado de Assis, devo afirmar que o post anterior não era sério.

É certo que a irritação ainda cá está, e me faz franzir o sobrolho desconfiado das minhas próprias ideias.

Mas como podia eu acabar com esta tribuna estilo folhetim virtual, por causa de uma irritação, quando há tanta coisa para dizer, por dizer, tanta coisa ainda para ser pensada, tanta coisa a acontecer e por acontecer e quando, tenho de admitir, me apetece tanto escrever? Acabar com o que já se começou por uma irritação parece-me agora de uma meninice inqualificável. Era como se o Napoleão tivesse parado a invasão porque lhe doía a barriga, ou porque se viu ao espelho e se achou feio (ele era feio). Temos que ser fortes. Este blogue tem de ser como a invasão do Napoleão. Não estou por menos.

Onde iria eu escrever? No meu diário? Também. Mas que piada tem um diário quando se pode ter um lugar onde quando se escreve se é posto à prova por todos aqueles que estão interessados em fazê-lo? É um valente antídoto para a auto-complacência. Enquanto no meu diário posso ser choramingas, aqui tenho de me mostrar forte. Enquanto que no diário posso ser pseudo-poético, aqui, a ser alguma coisa, terá sempre que ser o mais poético e o menos pseudo (é difícil, eu sou muito pseudo).

Mas o mais importante é a verdade. É ela que tem de ser protegida. E sozinho não consigo. Agradeço a todos os que estão comigo. Só o facto de lerem isto, faz mais por Ela (pela Verdade) do que poderíamos pensar. Mas isso não é mérito meu.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ilusão

Está-me a irritar a minha mania de que sei tudo. Vou parar por uns tempos até não saber nada.

Saber sofrer

Talvez a Selecção Portuguesa de futebol seja exemplo claro da maneira de pensar moderna dos portugueses: Não arrisca sofrer, e por isso não marca.

Os portugueses não querem sofrer, mas é preciso apostar a vitória para a poder ter. Nunca pode marcar quem não está disposto a sofrer. E existe sofrimento maior que viver uma vida de 0-0?

Mesmo perdendo no final - porque perdemos sempre - a vida é sempre preferível se se tiver marcado pelo menos uma vez.

Os sentimentos dos outros

Numa conversa com uma amiga a quem vou chamar Bruna, falámos sobre mulheres e homens. Tendo sempre em conta que tudo o que dizíamos eram generalizações, dissemos muitas coisas. Ela disse-me que eu achar que os homens tinham a obrigação de ser fortes era como dizer que as mulheres eram fracas. Eu disse que não, que cada género tinha as suas qualidades e defeitos, para cada talento uma fraqueza, como por exemplo, os homens serem tendencialmente fortes mas insensíveis aos sentimentos dos outros.

A Bruna não disse, mas eu tive a sensação que ficou no ar a ideia de que ser insensível também era uma vantagem, como se fosse um luxo que o homem tem, o de poder ser bruto.

Não sinto que seja. Os homens insensíveis aos sentimentos que não são seus, sofrem quando perdem aqueles de quem gostam por não saberem fazê-los felizes. Quando não conseguem exprimir aquilo que sentem. Quando sentem a besta incompreendida que são. Podem não sentir os sofrimentos dos outros, mas sentem bem os seus. Sofrem muito essa incapacidade de serem bons. Garanto-vos que é uma das nossas maiores tragédias.

domingo, 19 de outubro de 2008

Intimidade

Tenho uma amiga, que não interessa quem é, que está a tentar acabar com a antiga tradição de cumprimentar e despedir de uma pessoa com dois beijos no rosto.

O principal argumento dela, é que os beijos são uma intimidade excessiva para se ter com alguém que, muitas vezes, mal conhecemos. Eu tomo a liberdade de acrescentar outro, que descobri com a ajuda preciosa de outra amiga, a Madalena: banalizar o ato de dar beijos passando a usá-los como um cumprimento, destruiu todo o valor do beijo enquanto acção, tendo feito com que passasse a importar, não se se beija, mas onde se beija. É por isso que uma namorada ou namorado pode sentir que não é amado quando o seu amor não o beijar na boca, mas só na face. Que sociedade podre é esta em que uma pessoa pode pensar que não é amada porque lhe dão um beijo? Se passássemos a dar beijos na cara só quando sentíamos uma vontade que não conseguíamos controlar, muito mais valor teria um beijo dado a alguém de quem se gosta, ou a quem se quer dar carinho, seja entre amigos ou casais.

A minha amiga tem bons argumentos a seu favor. Mas a minha amiga propõe o aperto de mão europeu como alternativa ao beijo facial. Aquilo com que ela não contava era com a intimidade brutal que é para mim enquanto rapaz tocar as mãos de uma rapariga. Com o beijo banalizado, as mãos eram santas. As mãos eram o primeiro portal da virgindade do corpo.

Um toque na mão de uma mulher por quem me sinto atraído é mil vezes mais sensual que um rápido e fugaz beijo na face, que - mesmo que tentemos saborear e fazer com que dure o máximo possível - isso nunca passa de um esforço vão, pois conforme os nossos lábios lá estão, já não estão, e nunca dá para saborear. É tão rápido que nem dá tempo para pensar. Eu já tentei de tudo. Impulsionar a cabeça com mais força, para a frente, para melhor sentir a face desejada, já tentei friccionar os lábios contra a bochecha doce, ou mesmo mexê-los, já tentei até inspirar profundamente quando o meu nariz se aproximava dos cabelos de uma mulher que eu desejava para sentir o máximo dela que pudesse. Não consegui com isto mais que fazer com que pensassem que eu era um psicopata. Fui ridículo.

Mas com um aperto de mão tudo muda. O aperto de mão é um tocar, um enlaçar, um apertar, um sentir a pele lisa da outra mão com as nossas mãos - especialmente porque as mulheres não sabem dar apertos de mão como os homens - talvez por falta de treino - e concentram o fundamental do aperto de mão nos dedos e não na palma da mão (como o homem), o que faz com que seja um gesto de uma tal ternura encantatória, de uma subtileza e de uma sensualidade real sentir a mão da mulher, que o beijo bem pode ser enterrado.

Lembro-me das mulheres estrangeiras que já cumprimentei com aperto de mão e de como, as que eram giras, me fizeram tremer ao sentir aquela palma da mão, durante aquele segundo em que, como dois namorados, demos as mãos. Sou levado a concluir que o aperto de mão feminino é uma forma de sedução muito mais eficaz e precisa que o beijo na face.

E é agora que percebo que, esperta como é, a minha amiga sabe isto tudo. Por bluff diz que quer acabar com os beijos por causa da intimidade, mas isso é só uma estratégia para seduzir melhor os rapazes e ainda passar por santinha. Eu aqui a pensar que estou a fazer um post muito inteligente e ela já sabia isto tudo. Miúda, tu és de mais.

domingo, 12 de outubro de 2008

Cumprir

Seria de pensar que prometer fosse uma coisa fácil. No contemporâneo, em que desapareceu o pudor que fazia com que prometer significasse comprometer, seria de pensar que prometer fosse canja. Que toda a gente pudesse prometer e que o difícil fosse cumprir. Mas não. Porque toda a gente promete e ninguém cumpre, tornou-se dificílimo prometer alguma coisa e fazer com que acreditarem em nós. É por isso que já nem há sequer a coragem de prometer seja o que for. É por isso, por exemplo, que ninguém se casa.

Mas, das profundezas da Geração Descrente, houve quem tivesse a coragem de prometer.

Por entre o mar dos desiludidos, Os Pontos Negros prometeram. Os Golpes prometeram. O Tiago Guillul e a sua banda já tinham prometido. E com eles prometemos nós, todos aqueles que espalhámos a mensagem e acreditámos. E ontem, tornando o MusicBox a CaixaDeMúsica que até lá nunca fora, eles tiveram a ousadia de cumprir. E nós com eles.

A bandeira que eles hastearam ontem - com a ajuda de outros, que com nobreza de caráter respondem apenas aos nomes Amor Fúria ou FlorCaveira - hastearam-na para Sempre. Na História. Na História porque foi vivida no presente. Ontem aconteceu no MusicBox a melhor noite de rock português em que eu já estive presente. Acredito mesmo, a melhor noite de rock português que qualquer um dos que lá esteve presenciou até hoje, dada a sua idade.

Só é História aquilo que é vivido. Só conta aquilo que é verdade. Ontem o rock português foi verdade.

Verdade para quem? Para aqueles, que novos de espírito, ainda souberam acreditar.

Há duas formas de acreditar. Uma, envolve a fé. A outra, a razão. A que envolve a fé, consiste em acreditar naquilo que não se vê, só se sente. Naquilo que se sabe que é possível - é, no presente, apesar de só ir acontecer no futuro. Os que acreditaram assim, tiveram a oportunidade de estar lá no momento em que o futuro se tornou presente. E isso chama-se viver.
A outra forma de acreditar, que envolve a razão, consiste em ler textos como este, em ler as revistas, em ouvir contar a noite magnífica que aconteceu ontem e que uns eleitos presenciaram, e suspirar Acredito que tenha sido bom... Esta forma de acreditar fica para todos os que não estiveram ontem no MusicBox.

Quem deixou ontem o MusicBox a abarrotar era, de facto, novo. Novo de idade. Uma grande percentagem do público era mais novo que eu (e eu sou novo). Sei que a noite de ontem os mudará para sempre. A geração que aclamará Os Pontos Negros, Os Golpes, o Tiago Guillul, o Samuel Úria e todos os outros é a geração que hoje tem menos de vinte e dois anos.

A minha geração - a dos vinte e dois anos para cima - nem vê-la. Convidei trinta amigos, veio um. Mas não foram só os meus amigos que faltram, foi uma geração inteira. Não há nada que me alivie a raiva perante esta gente que, cansada, triste, precocemente velha, não tem forças para realmente viver o seu tempo (quanto mais algum dia aspirar a viver o passado ou o futuro - sim, porque é preciso dignidade para viver o passado e o futuro). A geração que deixar passar ao lado - e eu ainda tenho fé que não vai deixar - bandas como Os Pontos Negros, Os Golpes ou o Tiago Guillul, é uma geração merecedora do grito de Almada Negreiros através da História: 

Abaixo a Geração!

Quem me dera ver-me livre desta geração que faz o seu Tempo ser de Não Glória e só está preocupada com porcarias. A geração que nem promete, nem cumpre.

O melhor refrão dos nossos tempos é para ela.

Felizmente que a nova geração está já aí.

sábado, 11 de outubro de 2008

Os Ricos de Espírito

Ia a conduzir nas ruas da cidade, no meu carro preto. O teto estava aberto e deixava entrar a brisa da metrópole. O meu carro é baixo e é fantástico conduzi-lo. Parece que andamos colados ao chão, seja na auto-estrada seja na cidade. Desta vez estava na cidade. O rádio estava ligado. A estação era a Radar.

Então lá vem o tempo de antena do senhor Zé Pedro, o famoso guitarrista solo e ex-heroinómano dos Xutos & Pontapés, isto é, o Keith Richards português. Na edição de hoje do seu programa Zé Pedro Rock & Roll fez um bonito discurso. Defendeu as bandas portuguesas de música popular rock. Disse como era importante prestarmos atenção à nossa música, como ela era importante e tinha um lugar precioso a nossa cultura, como não devíamos sempre compará-la com a estrangeira mas julgá-la pelo que vale. E depois, apresentou a sua proposta do dia, em defesa da música portuguesa, como ele bem a defende. Apresentou uns tais que dão pelo nome de X-Wife.

Em primeiro lugar, já ouvi X-Wife no programa do Zé Pedro praí umas quinze vezes. Em segundo, os X-Wife não fazem música portuguesa. Os X-Wife são portugueses. Mas a música que fazem é anglo-saxónica. Promover os X-Wife não é promover a música portuguesa, é promover que os portugueses não façam música portuguesa e façam ainda mais música anglo-saxónica. Promover os X-Wife é promover a destruição da música portuguesa.

Como é que se pode dizer que é portuguesa uma música da qual eu, como português, não consigo perceber uma só palavra da letra porque, além de ser em inglês e o sotaque dele ser impossível, ele cantar de forma a eu não perceber nada?

Os X-Wife são uma boa banda. Só cometem um gravíssimo erro artístico. Cantam fora da cultura. Ao cantarem em inglês, os X-Wife colocaram-se por vontade própria fora da cultura lusófona. Mas enganam-se aqueles que pensam que eles se integraram na cultura anglo-saxónica. Porque eles queriam isso, mas não conseguem. Para um falante nativo de inglês, os X-Wife não são mais que uns nativos de um povo autóctone, que ainda não aprendeu bem a língua do império. São assim uma espécie de povo exótico, que os fará rir dado o esforço que faz por se fazer compreender.

Ser poliglota é bom. É ótimo. É excelente. Mas abdicar da própria cultura é um erro. Porque empobrece quem o faz. Porque quem o faz, ou o faz inconscientemente, porque já vive noutra cultura, porque a sua cultura de origem já não lhe diz nada, ou se o faz por moda, é apenas um pobre de espírito. Pobre de espírito no sentido mais literal que esta expressão pode ter, na medida em que a nossa cultura faz parte do nosso Ser.

Por muito que gostassem de ter nascido na inglaterra, os X-Wife não são ingleses. Ao terem nascido em Portugal, serão para sempre portugueses. Ao rejeitarem sê-lo, só ficam a perder.

O Zé Pedro admira-se como é que os X-Wife ainda não se afirmaram mais em Portugal. A resposta parece-me óbvia. Não se afirmaram aqui porque eles não gostam da sua cultura. Se não gostam da sua cultura, os portugueses também não gostam deles. Podem ser muito populares por entre a malta do bairro alto. Mas nunca serão na lusofonia. Será popular na sua cultura quem a souber abraçar e re-inventar, sempre dentro da tradição. Não há cultura sem tradição.

Se o Zé Pedro quer falar de cultura portuguesa, devia falar antes do concerto que vai haver este Sábado à noite - hoje - no MusicBox (que só nessa noite passará a chamar-se CaixaDeMúsica), em Lisboa, no Cais do Sodré, onde tocarão Os Golpes, Tiago Guillul e Os Pontos Negros, numa noite que passará a fazer parte da história da música popular portuguesa. Os Pontos Negros apresentarão o seu primeiro álbum de originais Magnífico Material Inútil, Os Golpes darão o seu primeiro concerto depois de atingida a sua maturidade enquanto banda e Tiago Guillul - o Midas português, que em tudo o que toca transforma em Pop - surgirá enquanto o justo mentor.

Se o Zé Pedro quisesse realmente defender a música popular portuguesa, promovia-a, em vez de defender os traidores da nação.

É mais português isto que X-Wife. Muito mais. Incrivelmente mais.

Vem aí a Crise IV

Se me perguntassem qual a solução para esta crise (ninguém me pergunta) a minha resposta seria:

A instauração de uma ditadura ecologista internacional.

A esquerda já teve as suas ditaduras. Fracassaram.
A direita também. Fracassaram.
É tempo de dar a oportunidade... aos verdes.

Sob o jugo da Internacional Ecologista, vai ser ver as grandes pradarias com milhões de pessoas a plantar árvores à lei do chicote. Rusgas para prender quem desperdiçasse energia. Nacionalização das empresas poluentes. Investimento de todos os meios económicos na construção de fontes de energia renováveis. Regulação da economia de forma a tornar cada país auto-suficiente em termos de produção.

Com isto no lugar das suásticas, das foices e dos martelos, parece que já oiço da minha janela as multidões na rua a gritar Viva a ditadura ecologista, viva o partido global ecologista, viva a nova ordem mundial.

Viva.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Vem aí a crise III

O maior de todos os sintomas de que a crise chegou é alguém achar que isto merece passar na televisão. Um efeito do photoshop, um mentecapto a abanar-se durante quatro minutos sem parar, uma voz alucinada. É o conceito de arte popular de hoje.

E pensar que arte popular já foi assim (e assim) e nos conseguia abanar sem se abanar.

Felizmente a crise vai por tudo no lugar.


Este post é dedicado a uma pessoa especial que vai saber quem é.

Viver para sempre (no presente)

Não sei. Talvez seja de mim. Talvez seja dos outros.

Sei que falo com as pessoas, conto-lhes coisas - e não estou a falar assim de coisas com muitos detalhes, ou de coisas em que as pessoas não estavam interessadas - estou a falar de conversas inteiras sobre um assunto.

Sei que, passados um mês, seis meses, uma semana - depende da pessoa - há pessoas com quem conversei que não se lembram de termos sequer falado de este ou aquele assunto! Pessoas que me deram a conhecer um livro ou um filme... e não se lembram disso. Pessoas a quem contei isto ou aquilo que era muito grave. Não se lembram... E não estou a falar de pessoas que, passado um pouco dizem eh, não me lembrava, tens razão. Não. Estou a falar de pessoas que não se conseguem lembrar.

É habitual esquecer-me se já contei tal coisa a tal pessoa. Mas a diferença é que, se me lembrarem, lembro-me!

Mas há pessoas que não.

Não tenho explicação para isto. Talvez as drogas. Mas nem todas as pessoas em quem estou a pensar tomam drogas. Talvez o mundo moderno, em que a quantidade de informação que passa por nós é imensa, não lhes permita armazenar tudo. Não sei.

O que sei é que isto traz grandes vantagens no campo da paixão. O maior inimigo da paixão era a habituação. Mas agora, com a nova e moderníssima amnésia, ninguém se lembra de nada, a habituação acabou! Estas pessoas nunca se fartarão das suas paixões. Isso fa-las-há eternas! Só acabarão quando a própria amnésia os fizer esquecer as próprias paixões. Mas até lá, estas pessoas ouvirão repetidamente as mesmas histórias uns dos outros, farão os mesmos passeios românticos repetidas vezes dizendo sempre as mesmas coisas, oferecendo sempre flores iguais e, com sorte, cada noite passada juntos será como a primeira! Com sorte, a estas pessoas, aquela curiosidade miudinha, aquela vergonha que nos revela quando pensamos que nos protege, nunca passará, impedindo para sempre que a relação amadureça!

E ainda dizem que as drogas não são boas para a sociedade.
Um - Acalmam as pessoas e impedem a luta de classes
Dois - Tornam as pessoas mais simples
Três - Não deixam que ninguém se torne demasiado esperto (quem não odeia intelectuais?)
Quatro - Permite diversão mesmo quando as vidas são infelizes
Cinco - Fazem com que a paixão não acabe...
... etc, etc.

O mundo moderno é maravilhoso. Se tivermos sorte, muita sorte, talvez esta falta de memória das experiências vividas alastre a todas as pessoas e chegue mesmo a deixar de existir o tempo. As pessoas não se lembrarão da infância ou do passado e será como se vivêssemos para sempre, e no presente. Como os animaizinhos! São tão queridos os animaizinhos!

Se tivermos muita muita sorte, talvez até a paixão dure para sempre e o amor acabe! Talvez nunca mais tenhamos de sofrer por amor!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Vem aí a crise II

Ontem, no dia em que a bolsa de São Paulo caiu 15%, pesquisei no Google "blosa de São Paulo cai". Por lapso (ou talvez não e o Freud tenha uma explicação para isto), escrevi blosa e não bolsa. Logo o Google me perguntou se eu não procurava antes Blusa de São Paulo Cai.

Temos inevitavelmente de ler nisto um sinal dos tempos. As pessoas andam à procura de blusas, quais bolsas? O mundo está é com falta de amor, não de bolsas. Façam cair as bolsas e as blusas! O povo quer amar-se.

Mas os portugueses estão bem preparados para a crise. Estão sim senhor. Ontem, o Ministro das Finanças de Portugal - Teixeira dos Santos - disse que os portugueses podem estar descansados porque caso haja uma recessão económica, as suas poupanças no banco não serão nunca ameaçadas.

Todos sabemos que, nos países realmente capitalistas, se houver recessão, nenhum governo tem dinheiro para restituir a todos os seus cidadãos as poupanças que tinham no banco. Excepto em Portugal. E porquê?

Porque nenhum português tem poupanças. Que poupanças? Onde é que no mundo inteiro há um português com poupanças? Os portugueses são um povo sério, um povo que faz mover a economia, um povo que consome. Poupar para quê? Aliás, poupar o quê? O dinheiro que não temos? Os portugueses consumiram e gastaram o dinheiro que não existia, mas o banco disse-nos que não havia problema. E assim sendo, está tudo bem.

Os portugueses estão bem preparados para a crise. Até porque nunca viveram de outra maneira. Crise? Que crise? Para os portugueses esta crise vai ser como ginjas. Crise... Só se formos todos viver para refugios nucleares subterrâneos é que passa a ser mais crise que agora. E só porque deixamos de poder ver o mar enquanto pensamos na vida, senão nem assim era crise. Há o Canal Benfica no refúgio?

É por isso que acho que os portugueses deviam ser destacados e enviados para todo o Mundo. Em pequenos grupos, de talvez cinco portugueses para cada aldeia do mundo, iríamos dar formação e aulas de como viver na crise. Todos os grupos seriam acompanhados de alguns assistentes brasileiros, talvez vinte, que, já bastante treinados por nós ao longo de uns séculos, ensinariam as pessoas do mundo inteiro os prazeres da vida - a cantar, a dançar, a cozinhar, a fazer amor - e por alguns angolanos e moçambicanos, talvez dez, que iriam ensinar aos povos do mundo o que é realmente divertir-se com poucos meios e até não poder mais e a como ter estilo com roupa barata.

E assim a lusofonia encontraria uma vez mais a sua função ancestral na caminhada cósmica e milenar da raça humana.

Já repararam como na nossa língua amar é quase igual a a mar? Como se significasse fazer-se ao mar? Melhor, como se significasse fazer-se mar? Fazer-se de novo em mar, de onde todos nascemos? Devolver-se ao mar, ao caos, no amor? Todos nascemos do mar e do amar dos nossos pais. Isto não é um acaso.

O que vais fazer agora? Vou a mar.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Vem aí a crise I

Mas porquê? Porque vem aí a crise logo agora que eu tinha comprado umas calças de ganga novas e justinhas para exibir no Bairro Alto? Bolas pá...

Parece-me que a crise só acontece porque há falta de Amor no mundo. Ninguém deixava que a crise acontecesse se tivesse alguma coisa valiosa o suficiente porque lutar. E para proteger. Uma moça linda com olhos de índia para amar. É por isso que o sistema activa esta espécie de instinto suicida e se auto-destrói. Quando percebe que não se consegue sustentar emocionalmente. Dizem que os mercados não se estão a auto-regular. Eu não vejo melhor exemplo de auto-regulação que um sistema que percebe que não vale a pena tanto trabalho se não há ninguém em casa para nos afetar com os seus doces afetos.

Este sistema foi afetado por isso. É um pena. Eu gostava dele. O capitalismo tinha coisas incríveis. Vai ser incrível poder contar aos meus netos que vivi no tempo do capitalismo - como a minha mãe conta que viveu na Alemanha Comunista - e que, ao contrário do Comunismo, o Capitalismo tinha muitas coisas boas. Mas pronto, não se pode ter só uma parte. Uma forma traz sempre o seu conteúdo.

Talvez agora, obrigados a lutar para viver, os homens da minha geração se tornem mesmo homens e as mulheres mesmo mulheres, e se amem todos uns aos outros, quando só isso tivermos para nos fazer felizes. Não mais sofás aveludados, não mais o fetiche das roupas caras, não mais os carros velozes. Não mais o algodão doce. É uma pena, já disse. Mas talvez assim voltemos a amar. Talvez assim um abraço volte a valer um abraço. Talvez as pessoas voltem a dar beijos por gosto.

Ao contrário do que os analistas prevêem, acho que a natalidade vai subir com a crise. Pelo menos se depender de mim vai.

Sobre uma geração em festa

(ver posts anteriores)

Os trajes académicos até que são bonitos. Juro que os chego a achar bonitos. O mau não são os trajes, são mesmo as pessoas que lá vão dentro. Mais perigoso que um corpo mal intencionado, é que esteja numa farda bonita. Porque é que os regimes mais terríveis tinham sempre as melhores fardas? Porquê tanto esforço e preocupação? Talvez fosse preciso esconder as intenções.

Dão-me raiva as pessoas que criticam a tradição académica por acharem que os trajes são feios. Os trajes são a única coisa boa. Tudo o resto é que é assustador.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Sobre a alma e o amor

(ver posts anteriores)

Se o Amor nos leva a, através daqueles que amamos, nos encontrarmos a nós próprios, então sentir Amor leva-nos a sentir a Alma.

O que é a alma

Durante toda a minha vida não soube o que era a Alma. Achem-me ignorante os que souberem, porque eu era. Pensava A Alma não existe, a alma é uma coisa inventada pela igreja, só existe o corpo.

Pobre ignorância. Ontem li na parede da casa de uma pessoa, uma coisa que me fez perceber que esta não era a maneira certa de por a questão. Não se trata de se existe ou não. Sim, uma pessoa é o seu corpo. Mas a Alma é uma palavra e tem um significado que se refere a uma coisa.

Alma significa Sentimento de Nós Próprios.

Muitos podem discordar, argumentar, conversar ou esclarecer-me sobre isto. Mas em vinte e dois anos nunca tinha encontrado definição que me parecesse mais verdadeira.

A Alma sente-se. Como o Amor.

Amorosamente imaturos

Oiço dizer que Os rapazes bons já têm todos namorada. Que Não há raparigas fixes. Que ninguém Conhece ninguém de jeito. E é assim que vemos o Amor hoje.

Todos queremos amar. Mesmo quem não acredita no Amor, gostava de acreditar. Ninguém sabe explicar o que é o Amor, mas todos sabem quando o sentem. Ahh, então é isto o amor sentimos. Eu também não sei explicar o que é o Amor. Só há uma coisa, pequena, que descobri. O Amor não se encontra. Não basta procurar. O Amor acontece, mas acontece porque nós fazemos com que aconteça. Procurar tem de ser agir. Procurar ter de ser construir. Procura-construção.

A procura-construção dá trabalho e leva tempo. Mas esta forma de pensar é completamente alienigena à minha geração. Graças ao capitalismo, habituamo-nos a pensar e a viver fora do tempo. Viver fora do tempo é, por exemplo, não termos mais consciência que, para comer um bife, é preciso esperar o tempo que a vaca ou o porco levam a crescer, o tempo que levam a ser alimentados, para que finalmente os possamos comer. O mesmo é verdade para uma alface, ou para uma maçã. É verdade para tudo. Antigamente, quando éramos nós que produzíamos a nossa comida - nós ou o nosso vizinho com quem trocávamos galinhas por batatas - víamos as coisas crescer e sabíamos que tínhamos de investir na coisa para ela ser grande, boa e gostosa. Da mesma forma, tínhamos de ser nós a construir a nossa casa. Não bastava comprá-la. O mesmo para as famílias. Tinham de ser as pessoas a construí-las.

No capitalismo tudo é comprado. Temos de trabalhar, é certo, mas tudo pode ser comprado no momento. Ninguém pensa que está, neste instante, nalgum campo no Alentejo, a crescer a alface que vamos comer daqui a uns meses. Mas está. Perceber o tempo já é um grande passo.

Mas a minha geração tem outra deficiência. Além de não compreender o tempo, é ainda mais difícil para nós conseguir imaginar o esforço e o tempo e a dedicação necessárias para que as alfaces fiquem boas. Hoje as coisas só passam a existir já prontas. A vida é um super-mercado. Compramos a nossa roupa, a nossa personalidade, os nossos gostos. Consumimos. Queremos, e temos, tudo na hora. Sem esforço.

Mas as pessoas trabalham! dir-se-á. A minha geração não. Não gostamos. Não é bem o nosso tipo de coisa. Ou talvez não tenhamos jeito. A minha geração prefere depender dos pais. Isso sim, é bom. E é por isso que a minha geração não aprendeu a tirar prazer do trabalho. Só nos dá prazer o que implicar estar parado, descansado, relaxado. É um estilo de vida. Quando se passa o dia-a-dia da vida parado, o único divertimento acima desse é estar mais-que-parado. Já não basta estar fisicamente estático, é preciso estar intelectualmente estático. É preciso fumar charros ou ficar entupido de cerveja, para chegar aos níveis sub-zero do relaxamento. O -1, o -2, o -3, como os andares de garagem do meu prédio. Quando já não é humanamente possível ser mais inútil, fuma-se um pouco e passa-se a conseguir.

Uns quantos de nós, mais esforçados, ainda se dão ao trabalho (imagine-se, ao trabalho) de se auto-consrtuirem e melhorarem, independentes (uns mais, outros menos) daquilo que a sociedade de consumo diz que eles devem ser. Lêem livros que não são os que a Escola, ou a Sociedade, diz que eles devem ler. Vêm filmes que não são publicitados como os outros, vestem umas roupas que gostam e não as que todos usam. Têm trabalho a auto-construir-se e isso é admirável.

Mas quase ninguém tem trabalho em alguma coisa que não seja o EU. É por isso que ninguém sabe amar. Porque amar é uma construção. Porque amar dá trabalho e leva tempo. Porque amar é acreditar em algo que não existe e torná-lo possível.

Uma vez um amigo meu disse a outro amigo meu uma frase de que nunca me esqueci: Precisas de uma mulher que faça de ti um homem. Amar o outro é fazer dele ou dela um homem ou uma mulher. É por isso que todos os rapazes de jeito já têm namorda, assim como todas as grandes mulheres já estão casadas. Porque encontraram alguém que fez deles grandes.

Por isso não se encontra o amor. As pessoas falam de encontrar o amor como se vivessem num super-mercado gigante e estivessem a dizer que não encontram a secção do amor. Ai, não encontro o Amor em lado nenhum... Desculpe, o Amor está em que prateleira?

O Amor faz-se.

Amar alguém é encontrarmos a pessoa que nos permite sermos nós. Na era do individualismo capitalista, as pessoas só se sabem fazer sozinhas. Ninguém se faz sozinho tão bem como se poderia fazer acompanhado pelo Amor. São as pessoas que nos amam e que amamos que nos fazem.

Quando conhecemos alguém novo, essa pessoa nunca é a pessoa que sonhámos amar. Ninguém é. Mas o Amor é uma espécie de radar que vê para além do tempo e nos permite ver tudo o que aquela pessoa poderia ser conosco. Um lado dessa pessoa que pode nunca se ter revelado à própria pessoa, mas que se ela se entregar à outra pode vir a transformar-se e a ter algo que já era seu mas que o próprio não sabia que tinha ou podia ter. O Amor é criador. Desperta coisas que o próprio nunca despertou porque nunca se interessou por elas e nem sabia que as tinha. É aquilo que vivemos juntos, a história partilhada vivida em conjunto que nos permite sermos. É um investimento. Não se trata de fazer da pessoa o que gostamos contra a vontade dela, ou de mudá-la. Isso é o que de mais horrível se pode tentar fazer, é o oposto do Amor. Amor é ajudar a pessoa a ser mais ela própria. A ser-se em toda a sua glória.

Não deixa de ser muito curioso que na minha geração os namoros sejam contratos, quase como casamentos, mas sem aquilo que mais assusta a minha geração. A ideia de para sempre. Ou seja, o tempo. Os namoros são para sempre até deixarem de ser. São exatamente um casamento, já que a maioria não dura até ao fim. O ser humano sempre encontrará formas rebuscadas de contornar os seus problemas. O que nunca irá acontecer é as pessoas ficarem sozinhas. Um dia, vai haver um grande despertar.

domingo, 5 de outubro de 2008

Prato na mesa (é só comer)

Uma amiga disse-me que eu parecia estar contente. E é verdade, ela tem razão.

Desde há uns dias atrás sinto-me inteiro. Sinto-me completo. Acabado de fazer como um bolo. Como se a construção do EU adulto tivesse, sem aviso, terminado, e tivesse tocado um TRRIMMM mudo do micro-ondas da vida e eu estivesse a fumegar como um prato acabado de cozinhar. De um dia para o outro. Daqui para a frente vai ser só viver.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Cultura da solidão

Porque é que toda a gente em Lisboa em 2008 quer ser independente e livre, se todos se sentem sozinhos?

Já ninguém está disposto a sacrificar-se por ninguém. Mesmo que alguém esteja disposto a isso, não encontra ninguém que esteja também, então não se pode entregar.

Estamos uns verdadeiros animais. E ainda nos julgamos uma malta muito cosmopolita aqui na capital. Porque deixámos de nos conseguir sacrificar? 

Por não nos terem ensinado? Por já nos sacrificamos suficiente noutras coisas? Por podemos dar-nos ao luxo de não nos sacrificarmos?