quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Praticar

Mesmo quando é já tarde de mais, e agora de nada pode valer, fazer na mesma aquilo que sabemos que devíamos ter feito.

Para que, quando Deus nos voltar a dar a oportunidade de praticar o bem, o tenhamos debaixo da manga, pronto a ser praticado.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Portugal é a cola do mundo

Ser português é chegar a Nova Iorque e para os ricos ser judeu. É quinze minutos depois em Washington Heights, falar castelhano e ser latino.

É chegar ao Brasil e estar na nossa terra, é nunca estar demasiado calor ou frio, é falar todas as línguas da América.

É na Europa ser europeu. É em África ser do país mais africano da Europa e com mais passado em comum.

É chegar à China, à Índia, à Indonésia ou ao Japão e ser primo daqueles senhores brancos que estiveram ali há muito tempo - no tempo em que quase não havia outros países - e perguntarem-nos "porque se foram embora?"

É na Rússia sermos de um país mais ou menos europeu e periférico como eles com sonhos de grandeza e de conquista do mundo.

É em Roma sermos católicos, é em Israel serem todos nossos primos - quer os judeus, quer todos os árabes com quem partilhamos tanto.



E devia ser usarmos tudo isto para o bem, para nos orgulharmos de sermos quem somos, e não para fingirmos que não somos nós, portugueses.

Pois tudo - especialmente o que é imenso - se pode usar para o imenso Bem ou para o imenso Mal.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

As mais belas consequências da cultura

O mais belo caso consequente da vivência da música é quando uma moça passa a ouvir uma banda por esta lhe ter sida mostrada por um rapaz de quem ela gosta.

Uma banda que não tem para ela nenhum interesse, não teve até ali qualquer importância, passa, por estar associada a ele, a ser o mais belo cantar.

Ao contrário dos rapazes (que houvem música obcessivamente, e forjam as suas próprias memórias que posteriormente associarão a cada canção, num meticuloso processo, na medida em que, afogando na música as suas mágoas, e vivendo através delas as suas emoções, elas ficam para sempre misturadas com as melodias, porém, muitas vezes por cobardia ou escapismo), as moças começam a querer ouvir uma canção por o amado a ouvir, isto é, porque aquele som faz de facto parte dele, da vida dele, da sua acústica, reverbera dele para ela, é como o cantar daquele galo.

Uma moça ouve música por amor a uma pessoa.

Cavalheiros, desconfiai das moças que oiçam muita música, especialmente se for muita pop, daquela sem especial interesse artistico-musical, que não percebemos bem o que dela tiram.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A razão simples pela qual os padres não podem casar

Um homem é capaz de satisfazer todos os caprichos de uma moça, e de lhe dizer qualquer coisa que ela queira ouvir para que ela o ame.

A vida de um padre é dizer-nos as verdades mais desconfortáveis. É ser incómodo para todos na sua castidade.

Uma mulher tem o direito a não ver as suas vontades negadas, a ser amada, a amar, a ser feliz.

Ser o vigia da moral do rebanho é incompatível com fazer uma mulher feliz.

Uma mulher que amasse um padre a tal ponto de querer casar com ele, teria de amar Deus ao ponto de ser freira.

Para quê casar um padre e uma freira? 

Para terem filhos? Justamente aqueles que mais sofreriam com a falta de tempo dos pais para eles, todo investido no amor do pai e da mãe a Deus.

Um padre, a partir do momento em que estivesse casado ou disponível para isso, deixaria de estar fora da comunidade o suficiente para poder ser olhado por ela como um estranho.

Perderia todo o seu lugar e razão de ser.

Quem traz ao de cima a problemática do casamento dos padres, vindo com mais ou menos boa vontade, vem sempre exercer a sua missão. Pois é através da sua proposta para que um dogma seja revisto, que se vem sempre renovar a razão de ser da impossibilidade disso mesmo, já que é, na verdade, um mero e justo pedido para volte a ser expressa, por quem sabe, a razão de ser de um dogma. Porém, no dia em que não houver nenhuma resposta a esse pedido, já não haverão padres, pelo que sim, será aceitável que eles casem.

domingo, 14 de novembro de 2010

Sonhos de uma vida

Toda a vida a trabalhar para um dia poder ver a mulher da minha vida corar.

sábado, 13 de novembro de 2010

A Mulher

Só as moças belas (se) podem (dar ao luxo de) ser castas.

Sensação de palavras podres

Sensação de que é melhor não falar. Mas continuar a ouvir.

Não dizer nada, como se, por só podermos dizer palavras, e todas as palavras virem do mundo, e o mundo estar como está, todas as coisas que poderíamos dizer estivessem já impregnadas e impuras.

Ouvir à minha volta e os sentidos dados às palavras de que eu gosto não serem os que eu quero dar, e ainda assim, não haver outras palavras para substituir essas. Só poder dizer o mal. Só poder mentir.

Missão. Vasculhar, escavar as palavras ouvidas da boca dela à procura da boa vontade. 

Reanimação do bem, boca a boca. Em silêncio.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Poema zen trazido para português por Herberto Helder

As palavras não fazem o homem compreender.
É preciso fazer-se homem para compreender as palavras.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Cemitério

Espantosa semelhança entre uma campa e uma página do facebook.

sábado, 6 de novembro de 2010

Palavras que só fazem sentido se quem as ler estiver feliz

A felicidade é tão sublime, que quando um dia a sentimos, nos faz saber que não é possível ter algo tão bom para sempre. Mas mais que isso, que não precisamos.

O tamanho da felicidade é tal que um pedaço dela é maior que o tempo de vida que temos para a fruir.

Ela está sempre presente. Mas para a vivermos, o nosso coração tem de estar de costas, e a fazer o pino, para abarcar mais do que aquilo que pode.

A marca que identifica a verdadeira felicidade é uma dose dela, de determinado em determinado tempo ser, de facto, suficiente.

Não precisamos do toque de Deus todos os dias. E ainda assim ele dá-no-lo. Não precisamos porque não o conseguimos viver.

Era como alguém que, presenciando um milagre, pedisse outro. A felicidade não é um estado normal, é um milagre.

Merecemo-la ao sabermos que não a merecemos. Que ela já cá está.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ideia vista num filme

Rezar é engomar a alma.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

As crianças são os guardiões da nossa inocência

Ter sempre crianças por perto, a proteger-nos de nos habituarmos a que seja normal podermos fazer e dizer, a todas as horas do dia - tornando assim permanentes em nós - coisas que todos sentimos, cá dentro, que não se podem fazer nem dizer em frente a crianças.

Sem crianças por perto estamos incompletos, como um corpo a que faltam órgãos. Mas felizmente a natureza deu-nos corpos que fabricam esses órgãos e permitem que nunca deixemos isso acontecer. Órgãos vivos, que cá fora, são nós.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O que não está lá mas faz parte

Só compreendemos verdadeiramente aquilo que somos capazes de criar.

domingo, 3 de outubro de 2010

Responsabilidade é liberdade

A democracia não está forte por as pessoas votarem. Está apenas moribunda.

O voto abstrato do papelinho ou do braço no ar é apenas uma versão pobre do verdadeiro voto, que é aquele consubstanciado em ações, em feitos. A verdadeira liberdade é agir.

A democracia está tão mais forte quanto mais pessoas participarem ativamente na política. A democracia perfeita seria uma em que todos os cidadãos estivessem em algum partido - excepto os que exercem cargos que os obriguem a não participar, como os padres, ou os artistas. Isso será possível, pois quantos mais de nós estiverem na política, menos sobra para cada um fazer, o que levaria ao desaparecimento dos políticos - no sentido contemporâneo da palavra - e ao surgimento de novos cidadãos, responsáveis.

Os cidadãos responsáveis seriam aí verdadeiramente livres, e necessariamente democratas, pois ouviriam os outros e aceitariam a decisão da maioria.

Esta é a única maneira de impedir ditaduras.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Negócio

Se uma mulher não gosta de sexo, não quer ter filhos e não acredita no amor, qual a razão para ter um homem na sua vida que não seja a de ter um criado?

sábado, 25 de setembro de 2010

Os olhos são o último reduto da vida

Ao conversar à mesa de jantar do restaurante chinês clandestino com a minha amiga sobre dissecação de cadáveres,

percebi que ela não sofria ao espetar facas no que já foi o corpo de alguém, cortar membros, extrair órgãos e vísceras e sangue de dentro de uma pessoa,

porque essas pessoas estão mortas.

Ela explicou-me que quando a pessoa está viva é quente, há pulsação, há movimentos, há veias e sangue e órgãos activos, respiração, há olhos que mexem (embora os olhos a ela, mesmo mortos, lhe façam impressão) e que é essa a beleza de um humano. Um morto é como uma pedra. Já não é gente.

Então pensei em todas as capas de revista, em todos os anúncios e modelos de beleza segundo os quais nos moldamos e como eles não têm também calor, nem pulsação, nem movimentos, nem nada (embora tenham olhos), e pareceu-me perceber no concreto onde é que a propaganda estética nos faz mal.

Não é natural desejar uma beleza morta.

E assim, só é possível alcançar esse ideal através do artificialismo, pois é uma "beleza" que não faz parte da Vida. O aspeto imaculado, a juventude eterna, a magreza excessiva, só são possíveis no formol.

Como se estivéssemos a trabalhar a vida toda até ao dia em que morremos para fazer de nós o mais belo cadáver.

Certas pessoas, o dia em que serão mais belas será no seu enterro.

sábado, 18 de setembro de 2010

Sempre certo

O céu foi sempre igual desde a origem da terra.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O valor das coisas

Preservar aquelas canções que ainda nos trazem memórias.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O conforto é uma doença

Uma cadeira de um veludo tão confortável, numa sala tão pacata, uma solidão tão preenchida, uma vida tão sem sal que me dá vontade de pegar fogo a alguma parede.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Mais perto da beleza

Quando os opostos são reunidos numa mesma coisa.

Mulher e rapariguinha,

Minha mãe e minha filha,

Dura e meiga,

Voluptuosa e casta,

Indiferente e atenta,

Inteligente e tonta,

Forte e vulnerável,

Alegre e melancólica.


Em Simultâneo. Tão completa.

Mais perto de Deus.


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um mundo para nós

A felicidade de saber que está ao alcance de todos o mundo, para que possamos com ele aprender a viver.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

À grande sabedoria do meu amigo Pedro

Que descobriu que mesmo as coisas das quais não nos lembramos continuam a contribuir para aquilo que somos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A questão definitiva

Viver é apurar as capacidades para a dúvida, pois a resposta final que explicará o universo virá em formato de pergunta.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Resposta mística provisória para aquilo que nos faz viver

O que move as pessoas para continuarem a viver e fazerem o que fazem é o mistério.

Combustível amoroso

Procuramos na pessoa que amamos alguém a quem contar os nossos segredos.

Mas a pessoa que queremos que nos ame é a última a quem podemos contá-los, para que nos possa continuar a amar.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A Vontade Boa

Outra palavra para Bombeiro deveria ser Boa Pessoa.

Um de nós decidia que queria ser boa pessoa. Ia ter ao quartel das pessoas boas, que é o centro da comunidade - e é essa a origem dos bombeiros - e dizia que queria ser um deles.

Lá eles ensinavam-nos os procedimentos para sermos boas pessoas. Fazíamos a formação e aprendíamos que para ajudar os outros é preciso saber fazer isto, isto e isto.

E a partir daí estávamos capazes para prestar qualquer bondade básica à comunidade.

Tornávamo-nos Soldados da Paz.


Até hoje, percebia Soldados da Paz como uma imagem de pessoas que treinam e têm uma hierarquia como os militares, mas que não usam armas.

Mas agora conheço-os, e percebo como uma comunidade em paz precisa e depende de ter cidadãos capazes para resolver os problemas dos seus. Problemas esses que são constantes: ir buscar e levar as pessoas acidentadas e doentes em ambulâncias, salvar pessoas encurraladas, arrombar portas para as quais não há chaves, salvar animais em apuros, apagar fogos. Um pilar da sociedade.

Pessoas que levam, voluntariamente, a paz às outras pessoas.

E algo em mim vibra como se eu soubesse intimamente que o bem só se pode fazer sem pedir dinheiro em troca.

Todos devíamos ser bombeiros. Outra maneira de dizer isto é, todos deveríamos querer ser bombeiros.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O Almoço dos trabalhadores

Na hora do almoço, vou a um super-mercado comprar coisas para pôr num pão. O meu salário não é alto.

Se isso se deve à economia estar fraca porque a economia de outras terras está a crescer, terras na China,

e se então isso significa que uma parte do dinheiro que ganharia antes um trabalhador como eu agora vai para a China, para que vários chineses ganhem mais,

(através de um complexo sistema económico que faz com que o mundo globalizado sem fronteiras seja como uma balança lenta mas eficaz, que só quando o dinheiro estiver igualmente repartido se estabilizará permitindo de novo aumento da riqueza nos países que já são hoje mais ricos, tudo isto porque, quanto mais pobre, mais barata a mão de obra, mas por isso, mais baratos os produtos que, assim, ocupam o lugar dos produtos mais caros, dos países com mão de obra mais cara)

e se, neste momento na China, um trabalhador na sua hora de almoço come uma sandes tão pobre mas tão digna quanto a minha (sendo que os que antes estavam no lugar dele nem para a sandes tinham), que ele pode pagar por causa desse dinheiro que antes estaria aqui no meu bolso e agora está lá,

então isso quer dizer que há uma relação direta entre a minha sandes e a sandes chinesa do chinês, e que nós os dois, com o nosso dinheiro, estamos na verdade a fazer uma vaquinha e a, juntos, partilhar o almoço.

Amigo chinês, é um prazer almoçar contigo. Espero que a tua sandes esteja boa. Não tens de quê. Espero que as coisas te corram bem aí na China. Eu? Tenho imensa sorte. Ah, já agora, se tiveres ocasião, diz ao Jia Zhang Ke que ele é o maior realizador do mundo.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A alma é regida pela lei do milagre

É uma ilusão pensar que se pode chegar ao mesmo lugar por caminhos diferentes.

sábado, 7 de agosto de 2010

O sentimento invisível

Incomoda-me que as outras pessoas não saibam quanto a amei.

Incomoda-me que exista apenas uma palavra namorada para dizer o que ela foi para mim. Que seja a mesma usada para pessoas que amaram menos, ou nada, ou diferente, e para sentimentos que foram banais.

Incomoda-me que alguém fale dela e lhe chame o mesmo que chama a outra mulher, ou mesmo à sua namorada, sendo que o amor deles nada tem a ver com o meu, e que essas pessoas nem conseguem compreender a grandiosidade de certos sentimentos mas pensem que sim ou então que eles não existem.

Como se ao chamarem-lhe minha ex-isso estivessem a mentir.

Incomoda-me que falte essa palavra para designar o sentimento invisível.

Incomoda-me ainda mais que seja um clichê dizer que é preciso inventar palavras novas para designar o que ela foi para mim.

E incomoda-me que mesmo assim seja verdade que é preciso inventar essa palavra única, só minha, só dela, donzela do meu coração, pessoa com quem fui um, pessoa a quem me entreguei.

Incomoda-me eu querer provar que o que eu tive foi mais do que a maioria dos outros tem, quando eu já sei que foi, e que isso seja considerado arrogante, quando eu apenas estou a tentar dizer a verdade do que eu sinto, a tentar reclamar de um direito.

Como seria lindo se houvesse maneira de medir o amor, e houvesse uma organização consagrada e reconhecida por todos, oficial e inequívoca, que distinguisse os amores maiores dos mais pequenos, e desse medalhas e troféus para os grandes amantes, de modo a que alguém pudesse dizer Bem, nem sabes, aquele gajo ali, teve em tempos um amor nível 7 por uma tal rapariga, e alguém pudesse responder Namorados nível 7? Foda-se, nunca conheci ninguém que tivesse amado tanto!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Mensagem recebida às 17:10 de uma amiga regressada ante-ontem da europa, ou As coisas Boas da Vida

" Adoro portugal..adoro lisboa :) as pessoas são limpa,bonitas e mesmo duma maneira simples, são sempre bem arranjadas..já vi tantos sorrisos hj, e gargalhadas pelas ruas :) bem..viajar faz-nos ver destas coisas "

Esfolei os joelhos a brincar com crianças na praia

Tenho sangue de criança nos joelhos.

Tenho a minha infância em crosta nos joelhos.

Tenho sangue da minha infância vivo nos meus joelhos. 

Tenho o meu sangue nos meus joelhos.

E afinal, é isto ser uma pessoa.

Estas crostas aqui vivas. E são iguais às de 1992 anos atrás.


domingo, 1 de agosto de 2010

A verdadeira faculdade de amar

está em amar sem precisar ser correspondido.



E a ainda mais perfeita capacidade de amar está em perceber quando não se é.

sábado, 31 de julho de 2010

Um amor

O milagre de, com tão pouco, termos feito tanto.

Hoje, restam disso apenas algumas marcas. Como acontece com o grande império de Alexandre. 

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Povos

Se é tão forte a experiência de Deus quando se é parte do balanço oceânico, quando somos embalados pelo ritmo natural, que é também o do nosso coração, o que pensar da religiosidade de um povo que todo ele é e foi entregue ao mar? Deste povo que vive em barcos?

Deus encontra-se em todo o lado. Mas quando o procuramos nos espaços entre as coisas e não nas coisas, Ele é mais fácil de achar, pois não temos as coisas para nos distrair.

Os povos que vivem entre as coisas, nas ligações, no mar, no céu, no espaço, no deserto, no vazio da montanha, nas florestas profundas, sempre foram povos de Deus. Pois fomos privilegiados no nosso ponto de vista.

terça-feira, 27 de julho de 2010

O balanço também em nós

A diferença entre olhar o balanço do mar de fora da água - em que vemos mais, mas de um só ponto - e de olhar o balanço do mar dentro de água - em que vemos menos, mas o nosso ponto de vista é constantemente reajustado ao lugar novo que é o mesmo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O ritmo de Deus

não é o do mais profundo silêncio e imobilidade, embora esse nos possa fazer senti-Lo.

O ritmo de Deus é o balanço de quando nos entregamos sozinhos ao mar, e boiamos de acordo com a corrente. Onde o nosso parado passa a ser a cadência da vida.

E depois saímos para a areia como aquele embarcadiço que em terra andava segundo o sabor das ondas.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O drama

A condição essencial para o drama é a verdade.

Porque a verdade é sempre conflitual. Quando está viva.

É esta a beleza do mundo.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Não gosto de raparigas

Gosto de meninas. De moças. E de mulheres.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Uma mulher, a minha avó

Todo um gigantesco saber viver concentrado naquele guardanapo de papel sobre a tigela vazia na sala que esperava por nós em silêncio para que nela jantássemos.

domingo, 18 de julho de 2010

Viver para lá do amor

Vista do cimo do castelo de São Jorge, que nunca verás.

Que não verás e que por isso dentro de ti permanecerá para sempre de uma lindeza maior, um plano para sempre futuro.

Não foste a mulher que eu queria, foste a mulher que tinhas de ser

O nosso amor já morreu. Mas no meu pulso ainda não partiu a fita de quando fomos ao senhor do bom fim.

sábado, 17 de julho de 2010

Um amor

onde o corpo dela era as minhas mãos aprisionadas, a pedirem para sair e que eu tentava em vão arrancar delas mesmas.

Feitos para os outros

Somos feitos numa forma em que a capacidade que temos de fazer algo pelos outros é muito maior que a que temos de fazer algo por nós.

Por isso é muito mais produtivo quando todos ajudam os outros do que quando cada um se ajuda a si mesmo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

As obras e a pobreza

Os artistas levam ao limite essa característica humana transcendente que se manifesta quando olhamos para eles sem sabermos que eles o são - artistas - e eles se revelam aos nossos olhos como os seres mais ridículos do mundo, mas que depois, quando passamos a ter em conta a sua obra, faz com que fique claro que aquela pessoa para quem estamos a olhar é das pessoas mais incríveis que há.

Esta beatitude vem de as suas obras não terem como critérios o lucro (no sentido mais amplo da palavra).

Um artista só pode ser pobre. Porque a sua obra não tem preço.

sábado, 10 de julho de 2010

O lugar do outro

Numa conversa há aqueles que querem compreender o outro.

Há depois aqueles que estão mais interessados em corrigir o discurso do outro, em convencê-lo, em fazerem-se compreender a si mesmos, em superar o outro, em anulá-lo.

Como em qualquer relação. Há aqueles que querem sentir o que o outro sente. Viver o amor do outro e fazer desse amor o seu amor. E há os que querem obrigar o outro a compreendê-los, que querem que as suas exigências sejam atendidas, que o outro seja aquilo que eles querem.

Em tudo, há pelo menos duas maneiras de agir. A atenção ao que está fora de nós e a atenção ao que está dentro de nós.

Tentar compreender o outro ou tentar que o outro nos compreenda a nós.

Eu acredito que nos compreendemos a nós compreendendo o outro.

Para que serve estar com o outro se não for para o compreender? Sozinhos já estamos o resto do tempo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Aos que de nós nasceram com uma sensibilidade demasiado apurada, ou que, por outras palavras, não fecharam os olhos quando deviam

A sabedoria está com os que não olharam diretamente o sol.

Pois não deixaram de o fazer por cobardia,
mas porque a palpebra os fez fortes o suficiente
para conseguirem viver sem precisar ver a fonte da luz,
bastando-lhes aquilo que ela ilumina.

Aprenderam a confiar no sol
sem para isso terem de perder os olhos.
Pois deve haver sempre uma subtil película,
entre nós e os nossos sentimentos,
para nos permitir vivê-los.

Não é preciso ver toda a luz de uma só vez.

E por falar em cobardia,
haverá cobardia maior que a de não conseguir viver sem olhar diretamente o sol?

terça-feira, 6 de julho de 2010

A trágica escolha de uma vida

Vá lá senhora, chegou a hora.
Vá lá senhora, chegou a hora de escolher o seu par.
De escolher o seu par. Alguém para amar. Alguém para a amar.


Vá lá senhora, a hora é pouca.
Vá lá senhora, que o tempo esgota. Vá escolher o seu par.
Vá escolher o seu par. Alguém para amar. Alguém para a amar.


O sofrimento agonizante, sob o pavimento da escuridão.
Raparigas e rapazes, monumentos tão audazes.
Há azul na tua mão. Sangue inocente, palpitação.
Alegria, tradição, euforia, excitação, para escolher o seu par.
Para escolher o seu par. Alguém para amar. Alguém para a amar.



Uma grande banda é aquela que faz as canções que a nossa vida pede.

Vá Lá Senhora é a canção nova d'Os Golpes.

Manifesto II

Um outro nome para o calor?

Felicidade.

domingo, 4 de julho de 2010

Traição

Ele era um menino que não se importava de emprestar os seus brinquedos. Só não gostava que os outros os estragassem.

Todos aqueles legos, que outrora se ergueram tão altos, castelos firmes, com passagens secretas, com os seus cavaleiros com um dragão para cada um, ou a ilha dos piratas, que recebi no dia em que o meu irmão nasceu, ou as naves do planeta do gelo que demorei semanas a montar e com que brinquei um milhão de histórias, para enganar a solidão e que eram os meus únicos amigos, ou os caubóis, que já mais crescido, roubei no supermercado, abrindo as caixas e escondendo nas mangas do casaco, todos eles, despedaçados.

Isto é, não só desmanchados, mas com peças a faltar. Peças que nunca serão reencontradas.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O meu maior sonho?

Que o Brasil invadisse Portugal e nos libertasse da ocupação europeia.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Para mim o fado é um amigo

A maldição do fado só existe se acreditarmos nela.

Se, pelo contrário, acreditarmos no trabalho, seremos invencíveis.

Para mim o fado é um amigo, é a língua em que converso quando estou sozinho.

Partilhar

Quando quebramos um compromisso com alguém,
não privamos o outro só de nós,
privamo-lo também de si.

Para que, como nós, o outro possa seguir em frente,
terá, como nós, de passar a acreditar um bocadinho menos em compromissos,
para que o sofrimento não o impeça de viver.

É aí que o privamos de si.
Levamos do outro um bocadinho de tudo aquilo que, nele, o fez acreditar no compromisso conosco.

sábado, 26 de junho de 2010

Sem medo

Entornar o caldo.
Assumir que se entornou o caldo.
Viver sem medo de entornar o caldo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O lugar onde acabam as dúvidas

A razão consegue lidar com aquilo que é racional.

Aquilo que não é racional, a razão destrói e transforma.




A vida não é racional.

A felicidade

de a poesia existir.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Flor

Há quem olhe uma Flor como um isco para propagar o pólen, mas há ainda quem saiba olhar o pólen como apenas uma desculpa para que possa, neste mundo, haver Flores.

As coisas são o que parecem

No dia em que descobri que aquilo que pensava ser a minha melhor qualidade é, afinal, o pior dos meus defeitos.

sábado, 19 de junho de 2010

Quem é o inimigo?

Há algum tempo atrás, no berço da civilização, todas as cidades estado se juntaram para combater Atenas, a mais forte de todas, porque ela tinha ambições imperialistas sobre os seus vizinhos. Grande foi a festa da vitória. Atenas em ruínas, os doces helénicos celebravam a fundação de uma nova Grécia, região de paz e prosperidade, agora que Atenas não ameaçava mais com a sua força.

No dia seguinte, os Turcos invadiram e conquistaram toda a Grécia. Aquilo que os povos helénicos afinal celebravam, sem saberem, era o fim da Grécia.

A coragem de viver de olhos a sorrir

Só pode ter a coragem de se atirar ao desconhecido da maravilhosa aventura da vida alguém que ame a Deus. Mesmo que não saiba que ama. Quantas vezes na vida amámos sem saber?

Porque é diferente saber que se há de morrer de ter a certeza de que se está a morrer.

Sem Deus não há forças para aceitar viver com esta certeza. Logo algo está mal. Mas com Deus, como se pode ter medo do que quer que seja? O pior que pode acontecer é sentirmos o doce e amigo amparo da mão d'Ele. A alegria e emoção de saber que nada nos pode acontecer se Lhe formos fiéis.

Saltemos então depressa, rumo ao desconhecido, rumo à coragem!

Não deixemos o medo convencer-nos a não Acreditar.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O gesto mais ousado de todos entre uma amiga e um amigo

Não é apalpar certas partes do corpo do outro no escuro,

É caminhar de mãos dadas na rua, ao claro.

A parte soculenta da fruta

Em Cabo Verde, nádega diz-se polpa.

Isto são pessoas que sabem tudo o que há para saber sobre anatomia.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Pedido sincero de desculpas

Peço desculpa a todas as pessoas a quem faço sofrer, diariamente, por ser quem sou.

domingo, 13 de junho de 2010

Deixar as emoções transformar-nos

Tentar não fechar nem formatar uma emoção que é livre - a ser vivida em transformação, aberta, e que ainda não se sabe para onde vai - em função de um preconceito, em função de uma ideologia.

Não tentar encaminhá-las, nem forçá-las. Deixá-las fluir e misturar-se umas com as outras e produzir um resultado transformador em nós. Não viciar o jogo. Não deturpar sentimentos. Nem recusar nenhuns.

Não se trata de nos deixarmos dominar pelas emoções. Trata-se de nos conhecermos melhor a nós mesmos, para justamente sabermos para onde queremos ir.

E mais ainda, não nos precipitarmos a transformar um sentimento, de uma situação, numa ideologia. Pois um sentimento de um momento, não é aplicável, enquanto ideologia, a qualquer situação.

Cada caso é um caso.

De como se processou a evolução para a felicidade

Naquele tempo, o capitalismo foi de uma grande audácia.

Percebeu que não se conseguiria manter só com os homens.

Depois de já lhes ter explicado que a vida no amor da família não era a felicidade, havia porém sempre a sua característica fraqueza que os puxava de novo para sentimetos irracionais.

Por mais que o capitalismo lhes explicasse que ter filhos era, para além de desnecessário, desagradável porque os impedia de pensar nos seus prazeres, havia sempre uma minoria menos apta para a evolução que não se deixava iluminar, e que estranhamente, influenciava muitos outros. O amor por uma mulher e uma família fazia-os perder tempo, tempo esse que deviam usar para o trabalho, para, através dele, rumarem à evolução.

Foi aí que o capitalismo percebeu que só poderia sobreviver através da correção desse defeito nas mulheres que fazia com que os prazeres por elas dados aos homens superassem os oferecidos pelo capitalismo.

Explicou então às mulheres que elas eram maltratadas, injustiçadas e discriminadas por não serem homens.

As mulheres, nas quais o capitalismo criara há muito necessidades enormes de consumo - técnica através da qual tinha conseguido que os homens trabalhassem, pois as necessidades materiais das mulheres obrigavam os homens à riqueza se as quisessem manter - perceberam que o capitalismo tinha razão, que tinham de ser elas a sustentar as suas necessidades de prazer, pois os homens não o faziam na perfeição.

Foi assim que o capitalismo melhorou as mulheres.

Os resultados foram magníficos, pois resultaram na duplicação da mão de obra disponível, o que permitiu ao capitalismo multiplicar várias vezes a sua velocidade evolutiva e um aumento exponencial do lucro.

Mas houve, como sempre, uma reacção contra-evolucionária.

Com a sua habitual fraqueza, os homens sentiram-se perdidos. Não tinham mais as mulheres para nelas depositar o seu sentimento irracional. Logo, não tinham pelo que trabalhar, pois os prazeres que os motivavam, tinham agora desaparecido.

O capitalismo não tinha, naquele tempo, previsto que a fraqueza masculina fosse tão grande. Mas também para isso encontrou uma solução.

Lembrou aos homens as dificuldades de manter uma mulher. As zangas, as chatiçes de ter de aturar alguém que não é igual a nós. Alguém que não compreendemos, alguém que exige tempo que deve ser gasto no trabalho para a evolução.

Os homens, que depois de tanto tempo, já não se lembravam bem do que era uma mulher, perceberam finalmente que o esforço não compensava, e que a felicidade era sim encontrar alguém igual a eles, outro homem, que os compreenda, de modo a que possam ter mais prazer com menos esforço.

As ex-mulheres, que nesse tempo já odiavam os homens, ficaram felizes ao saberem que estes iam desaparecer e não as iam impedir de se amarem entre si, e tornaram-se grandes defensoras dos ex-homens, pois eles garantiam também a sua posição de ex-mulheres.

Os ex-homens e as ex-mulheres, tornados assim cada vez mais idênticos, venceram desta forma os homens e as mulheres e completaram a evoução capitalista, tornando-se super-homens e super-mulheres.

Os super-humanos viveram assim felizes para sempre. Fazendo sexo entre si, trabalhando muito para garantir que os prazeres eram o mais satisfatórios possíveis e nunca desapareceriam, já que, como a ciência tinha feito deles imortais, durariam para sempre.

sábado, 12 de junho de 2010

The Coming of Wisdom with Time

Though leaves are many, the root is one;

Through all the lying days of my youth

I swayed my leaves and flowers in the sun;

Now I may wither into the truth.
 
 
William Butler Yeats

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Formas exóticas de ser nuvem

O céu abriu muito bonito hoje.

Estou agora a olhar para uma esfera celeste iluminada, de nuvens em concha gigantesca branca no céu, muito alta, como um grande cone, um grande túnel, que tem no centro um céu branco branco branco com uma pérola a brilhar para nós. A parte de cima de cada nuvem explode de cor-de-sol. Muitos mundos nos céus e com muitas possibilidades cada um, com brilhos, cores, segredos atrás de cada nuvem. Parece uma versão abstracta do mundo dos humanos. Mas para as nuvens, talvez sejamos nós uma versão abstracta do seu mundo. E cada árvore, cada pessoa, seja uma forma exótica de ser nuvem.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Manifesto

Quanto melhor conheço os seres humanos, mais gosto de seres humanos.

sábado, 5 de junho de 2010

As modas

Maravilhosa invenção que nos permite ter amigos!

Viva a cultura popular.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Técnicas de sedução racionalistas

Sê fraco.

Os outros vão adorar dominar-te.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Aconteceu História

Foi há uns dias. Estávamos cá. Todos. Eu, vocês. E vimos.

A institucionalização da separação entre a direita política e o catolicismo em Portugal, marcada pelo apoio da totalidade dos partidos da direita a uma candidatura presidencial que não partilha a visão do mundo da Igreja Católica, é um momento de viragem civilizacional.

Até hoje nunca tinha havido homogeneidade do laicismo na política.

Ao assumir o seu laicismo, a direita portuguesa junta-se à maioria das direitas do ocidente e vem confirmar o que já sabíamos mas até hoje não era assumido: a esquerda e a direita são hoje apenas duas propostas diferentes para controlar o dinheiro.

Os chamados conservadores defendem que o dinheiro se deve manter onde está, nos seus bolsos. Os chamados progressistas defendem que deve ser roubado de onde está e posto num lugar novo, nos seus bolsos.

Nenhuma utopia civilizacional, nenhum transcendente. Apenas combate entre egoísmos organizados.

O capitalismo cumpriu-se.

E é quando se cumpre que começa a ruir. Porque não serve.




A partir de hoje, nenhum cristão poderá dizer que é de direita.

domingo, 30 de maio de 2010

A felicidade

Se do mundo se tirassem todas as pessoas infelizes,

e ficassem só as felizes, de forma a criar um mundo novo, só-feliz,

não resultaria, pois são as pessoas infelizes

que fazem das felizes aquilo que elas são.

Gaga-pensamentos

Há pessoas que se fazem passar por pensadores sérios que dizem que não gostam de Lady Gaga. E outras, do mesmo grupo socio-cultural (chamemos-lhes assim), que dizem que adoram a Lady Gaga.

Mas as motivações são, nas primeiras, apenas o ódio ao povo e vontade de pertencer às elites culturais - manifestado pelo ódio ao que é comercial - e nas segundas, serem de tal modo realmente ultra-snobes que chegam ao ponto de terem de disfarçar fingindo que são do povo porque gostam daquilo que o povo gosta.

E no meio disto, onde é que fica a Vida?

Se gostam, assumam que é porque aquelas notas vos excitam pra caralho, que é porque as danças dela vos despertam a libido, ou, se não gostam, assumam que é porque vos repugna aquela mulher meio atrasada mental que não sabe nem dançar nem cantar. Isto ou qualquer outra coisa. Se quiserem. Se não quiserem também está bem.

A Lady Gaga parece-me um dos maiores génios contemporâneos. Odeio-a por tudo aquilo que ela representa: a sociedade em que vivemos hoje de pessoas que só pensam no seu próprio prazer, de pessoas cheias de sentimentos maus, de pessoas superficiais, e acima de tudo, alienadas. Mas amo-a por ela ser um absoluto génio em responder àquilo que o mundo pede. Porque se pede, há uma razão para pedir, e o mundo tem todo o direito de pedir o que quiser. Ela é um génio em perceber exactamente o que isso é, quem são essas pessoas de hoje e em saber falar do sofrimento delas. Amo-a por ela declarar aos berros a todo o mundo que somos uma sociedade de absolutos chalados, de pessoas enlouquecidas, apodrecidas, superficiais, sem norte, sem solução à vista, uma absoluta cambada de alienados.

E é tão comovente o sofrimento que dá para ver nos olhos desta mulher, naqueles videoclipes. Deve ser uma pessoa tão solitária. Ela tão-feia-tão-feia, ali, a mostrar-nos a todos como realmente somos.

Haverá melodia mais grandiosamente excitante que o refrão do Bad Romance? Algo mais épico? E aquela violência? Aquilo é que é estar vivo. Haverá personagem e mulher mais corajosa? Não há. Não há porque hoje não há ninguém que tenha a coragem de dizer a verdade, que é  

I want your love
And I want your revenge
I want your love
I don’t wanna be friends
O o o o o

Porque é que ninguém diz isto? Porque é que anda tudo a fingir que somos todos muito amigos e que o amor não custa? Que quando se perde a pessoa que amamos não há nada que a traga de volta, muito menos a amizade, até porque essa amizade não existe, não é nada comparada com amar?

É que não serve de nada ser amigo de quem se ama em honra dos momentos muito especiais que se viveram, porque isso não é viver, isso é forçarmos-nos a não sentirmos o que sentimos e não sentir é a morte. É o absoluto oposto do amor. É rebaixarmos-nos, não perante os outros, mas perante nós próprios. É não ter orgulho nem honra. A Lady Gaga sabe isto tudo e porra, ela tem a minha idade. 24 anos e olhem onde ela está e olhem para nós. Ela e o Cristiano Ronaldo e Nós Todos.

Claro que o Marylin Manson já nos tinha dito isto tudo há quinze anos. Mas quando ele fica velhinho, está cá a Gaga para nos lembrar.

Claro que o meu mundo era um Mundo onde estas pessoas feias-bonitas não precisassem de existir.  Mas claro que a culpa não é dos artistas. A culpa é nossa.

Nós somos a Lady Gaga.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A mesma coisa

Fidelidade e amor são duas palavras para a mesma coisa.



(isto pode parecer uma constatação óbvia, mas não é óbvia para muitas pessoas)

Consequência e causa

A sociedade ocidental a ruir e certas pessoas que deviam estar preocupadas muito contentinhas consigo mesmas.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Dar amor

Ao compreendermos porque não merecemos ser amados por quem queríamos ser, passamos a aceitar o nosso sofrimento.

Receber é uma consequência de dar e não o contrário. Mas não basta dar. É preciso dar o que o outro quer receber, não o que nós queremos dar-lhe.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Já foi tudo feito antes de nós

O critério da originialidade leva invariavelmente, depois de se ter aprendido um bocadinho, ao sentimento de que já foi tudo feito antes de nós. Bastaria isso para provar que esse critério não nos permite criar, nem viver. A originalidade leva à inacção. Ou pior, à destruição do que existia antes.

Tanto quanto sei hoje, pelo que me foi mostrado pelo mundo, viver é tudo menos original. Antes de nós viveram milhões, e viveram como nós vivemos. Pois a vida é precisamente a repetição, o fazer tudo outra vez, recomeçar a cada vida nova todas as etapas da vida que nos gerou.

É essa a nossa originalidade. A de revivermos, dando vida de novo ao que já estava morto, à nossa maneira.

A única originalidade que há está na nossa origem. Aquilo que foi feito antes de nós, fomos nós. Éramos nós. Os que fazíamos e os que éramos feitos.

Olhem à nossa volta. Está tanta coisa morta. Há tanta coisa por fazer.

domingo, 16 de maio de 2010

Para sempre

Um momento que me marcou para sempre foi aquele dia no jardim.

Um grupo de actores fazia teatro de rua. Propunham ser mudos. Estavam sempre sérios e eram muito expressivos. Comunicavam batendo em malas de viagem vazias, cada um tinha a sua. Moviam-se em bando, como pássaros, para onde ia o primeiro ia também o segundo, vestidos com roupas minimalistas escuras. Interpelavam os transeuntes com um olhar esbugalhado e ensandecido, assustador, e ficavam parados fitando-nos, batendo nas malas, pedindo-nos para batermos também, esperando uma reacção.

A reacção era contorná-los. Parecia ter sido ganha a proposta estética. Desafiava o outro.

No meio das pessoas passou devagarinho uma velhinha, pequenina, corcunda, de bengala, já sem dentes e com um olhar muito antigo. Ela não percebeu a proposta. Quando eles não perceberam que ela era uma velhinha e ficaram a bater nas suas malas, ela ficou a olhá-los, sem perceber porque não a deixavam passar. Nos olhos deles viu-se imediatamente que não aguentavam o bluff de não serem seres humanos, mas não podiam parar a sua performance. Não sabiam o que fazer e continuaram a bater nas malas e a olhá-la. A senhora ficou a olhá-los com um olhar esgazeado e começou a gemer, como se chorasse, mas zangada. Ela começou a tocar-lhes, pequenina. Foi aí que se percebeu que ela era louca. Quando começou a passar-lhes as mãos pelo peito e pela cara eles não sabiam o que fazer e ficaram quietos. As personagens não estavam programadas para encontrar a vida.

Ela segurava-lhes nas mãos quando chegou a neta e a levou dali dizendo que era a brincar avó, eram actores, era a fingir.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Actos

Parece-me, hoje, nesta fase da minha vida, que muitas pessoas - muitos de nós - não passam dos Primeiros Actos das suas vidas. Desistimos quando começam os problemas, antes do início do Segundo Acto.

Daqueles que temos a coragem de viver esse longo e difícil Segundo Acto, infelizmente a grande maioria de nós desiste antes de chegar ao Terceiro.

Hoje, nesta fase da minha vida, em que tento viver o Segundo Acto, a minha grande ambição é conhecer aqueles que tiveram a coragem de viver o Terceiro. São tão poucos. E tão admiráveis.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Amar a mãe

Ao ver na televisão a Procissão do Adeus em Fátima percebi que é com a nossa mãe que aprendemos a amar.

Todas as mães que não amem incondicionalmente a sua família estão a criar futuros adultos incapazes de amar.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Comunidade auto-sustentável

As únicas ideologias políticas dignas de serem consideradas são aquelas que gerem seres humanos fortes o suficiente para morrerem a lutar por elas.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

De mãos dadas

Sem Amor nunca teremos alguém para nos acompanhar no enterro dos nossos pais.

domingo, 9 de maio de 2010

Usar a verdade para a mentira

O perigo do esoterismo, do New Age, dos cultos ao sobrenatural, das videntes, dos espiritismos organizados, da psicologia e afins auto-ajudas - ou seja, de todas as falsas religiões - é usar o poder avassalador e verdadeiro da Fé de alguém para aquilo que não é o essencial para essa pessoa e para a humanidade. Usar a Fé para o Mal.

As falsas religiões são paliativos onde as verdadeiras procuram a cura.

sábado, 8 de maio de 2010

Só o Amor

Só o Amor permite a Verdade.

Experimentem dizer a verdade a alguém que não vos ame. Depois a alguém que vos ame. Saberão logo do que estou a falar. Quem não nos ama exige a mentira. Só quem nos ama nos permite sermos verdadeiros. Não acreditar no amor é condenar-se a viver eternamente numa prisão de fingimento.

Quando amamos alguém, amamos a verdade dessa pessoa. A diferença entre a paixão e o amor, é que a paixão é pela mentira, enquanto o amor é pela verdade. A paixão é pelo que pensamos que alguém é, o amor pelo que sabemos que a pessoa é.

Assim, também só a Verdade permite o Amor.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Holocausto I

Os nazis do século XXI serão ecologistas.

domingo, 2 de maio de 2010

Amar é perder

Quanto mais se ama mais se perde.

A coragem de amar é a coragem de ousar sofrer perder alguém.

O saldo de uma vida mede-se pelas pessoas cujos caixões vimos somados às pessoas que viram o nosso caixão.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Alegoria do Ténis

Todos somos animados pela mesma vida.

Como um cordão (atacador em Portugal) que ao ser colocado nos buracos do ténis dá a ilusão de ser dois cordões, e a cada buraco em que passa a ilusão de ser um cordão novo, quando na verdade é apenas um só cordão, único.

Pois nós somos os buracos do ténis e é um só cordão que nos anima a todos.

Dentro de cada outro estou eu.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Mais uma pedra

(a oitava)

A casa de pedra em Guimarães.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Cuidar

Mesmo quem não teve filhos vai um dia precisar que alguém cuide de si.

O que quem não teve filhos não considerou é que não é justo para alguém de quem nós não cuidámos na infância ter de cuidar de nós na velhice.

Dando-se o caso dessa pessoa ter, mesmo sem filhos, alguém que cuide dele, é de lembrar que foi preciso que alguém tenha cuidado desse filho para que, chegado o tempo, ele possa agora cuidar desse que não teve filhos.


Há por fim a saída de substituir o amor pelo dinheiro e tornar o cuidar num serviço, coisa que é tão horrenda que nem tenho palavras.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Um grão de areia no universo

A felicidade de descobrirmos que somos só um grão de areia na gigantesca criação que é o Universo é a de ficarmos a saber que somos alguma coisa, por muito pequena que seja. É a felicidade da descoberta do que realmente somos. Do fim do engano.

Não há espaço para o susto ou para a tristeza no confronto com a nossa pequenês, só para o espanto e para a maravilha da perfeição de fazermos, comprovadamente, parte de uma criação em que cada grão de areia desse Universo é pensado em tal pormenor e grandeza.

E ficarmos a saber que afinal, se somos só um grão de areia, então é muito mais fácil do que pensávamos sermos Bons. É só sermos o melhor grão de areia que conseguirmos.

Que rico universo!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Milagre

Só essa cola entre as coisas que é a Fé faz tocarem-se elementos da vida que sem ela estão distantes, tornando a vida uma só coisa.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O nosso familiar morto

Sabem aquela atenção e cuidado que temos quando falamos com uma pessoa a quem sabemos que lhe acabou de morrer um familiar?

Era a atenção e cuidado com que devíamos falar a toda a gente.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Aproveitar a vida

Viver cada dia não como se fosse o último mas como se fosse o primeiro.

Olhar para tudo como se fosse a primeira vez. Porque realmente É.




Se hoje for o último dia da minha vida, vivo sem esperança, e morro. Se hoje for o primeiro dia da minha vida, renasço e acredito.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ser anti-português é ser anti-brasileiro

Começo a ficar farto do recorrente clichê "se o Brasil tivesse sido colonizado pelos holandeses talvez fosse melhor".

Em primeiro lugar, o Brasil não foi colonizado pelos holandeses. Sabem porquê? Porque os holandeses não foram capazes de o colonizar. Se os holandeses fossem capazes de colonizar o Brasil seriam (como) os portugueses, não seriam os holandeses (apesar de a independência da Holanda de Espanha se dever em grande parte à acção dos judeus portgueses radicados na holanda, mas isso é outro assunto).

Só os portugueses têm na sua cultura, na sua identidade intrínseca, no seu código genético civilizacional, as características que levaram à formação do Brasil.

O termo "colonizar" aplica-se quanto muito aos povos tupis e guaranis que habitavam o terrítório a que hoje chamamos Brasil, mas não ao país-Brasil. Os tupis foram colonizados. O Brasil não. Porque o Brasil não existia antes de os portugueses lá chegarem. Logo, os portugueses nunca colonizaram o Brasil. Fizeram mais que isso, pior que isso: os portugueses criaram o Brasil.

E o meu ponto é que só os portugueses poderiam ter criado o Brasil, mais nenhum povo do mundo.

Os territórios que foram espanhóis na América são hoje uma série de países que não se entendem nem têm unidade. Se o Brasil tivesse sido colonizado por Espanha seria hoje talvez um conjunto de dez países, ou então talvez cada estado do Brasil actual fosse um país independente. Acho que não preciso dizer a miséria que isso seria. Perderíamos este Brasil maravilhoso, toda esta cultura, que viajou da Bahia para o Rio de Janeiro, para São Paulo, passando pela Amazónia e por todo esse país branco preto mulato.

Isto que aconteceu com o resto da américa latina deve-se à falta de unidade nacional intrínseca espanhola. No código genético civilizacional dos espanhóis está a rivalidade consigo próprios, e o facto de serem um país composto ele próprio por uns cinco ou seis países. Isto levou a que cada um puxasse para o seu lado, o que deu uma catrefada de países e pouca unidade.

Pelo contrário, os territórios que foram holandeses na América são... o Suriname. Ninguém quer ser o Suriname. Os Brasileiros querem? Não me parece. Com todo o respeito... que país mais desinteressante comparado com o Brasil.

É que o Brasil nunca poderia ser o Suriname. O Suriname revela aquilo que os holandeses sabem fazer: colónias pequeninas, bem organizadas, bem geridas, mas que não têm interesse nenhum.

Só a megalomania portuguesa é que poderia gerar o Brasil. O desejo de fazer um ímpério. Assumindo o grande disparate e loucura disso. Assumindo todas as dificuldades, das quais nem tinham noção. Assumindo que isso daria um país desequilibrado. Um país grande de mais. Uma ideia inconcebível. Acham que algum racionalista holandês afirmaria "vamos fazer o Brasil?" Não, porque "fazer o Brasil" é impossível, só os portugueses seriam capazes de tamanha insanidade. De tamanho absurdo. De tamanha desproporção.

É aí que se vê a grande religiosidade portuguesa. A capacidade de acreditar em algo que a razão nega poder existir. A fé que é precisa para acreditar em criar o Brasil nenhum outro povo do mundo a tem.

Mesmo os ingleses, que têm tantas capacidades, se teoricamente considerassem esse projecto, pensariam, acertadamente "um país desse tamanho não, vamos tentar, um terço disso, é mais razoável, mais sensato". E provavelmente conseguiriam fazer um país interessante. Mas não seria o Brasil. E acontecer-lhes-ia o que aconteceu na América do Norte. As coisas escapar-lhes-iam das mãos. A competitividade do modelo anglo-saxónico é tal que os Estados Unidos da América se criaram sozinhos, contra os Ingleses, com ajuda dos franceses. Não foram os ingleses que o fizeram.

Voltando aos holandeses. Os holandeses não estavam interessados em colonizar. Os holandeses não se misturam com os outros povos, só querem comércio. Nem os ingleses. Os espanhóis só um bocadinho. Alguma vez o Caramarú seria outra coisa que não português? Olhem Cabo Verde, esse país de mestiços. Olhem o Apartheid, alguma vez poderia acontecer num país lusófono?

Toda a identidade brasileira em que eu tenho tanto orgulho e em que acho que os brasileiros têm tanto orgulho vem dessa multi-culturalidade que é uma atitude intrinsecamente portuguesa. No mundo ocidental, foram os portugueses que inventaram a miscigenação. Isso tem de ser dito. Os portugueses vão para um lugar e fundem-se com ele.

O Brasil só pode ser um país de brancos, negros, índios e asiáticos, unido nacionalmente como é, por causa dos portugueses. Um país que acolheu todos esses refugiados durante a guerra, que hoje estão todos integrados.

A miscigenação vem de os portugueses serem um povo completamente unido, como poucos, e de, simultaneamente, ser composto por uma mistura de lusitanos com celtas, iberos, mouros, judeus, negros, chineses, indianos, etc.

Essa frase bonita "Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena e/ou do negro" do Gilberto Freyre (apelido português bonito, Freire, escrito à antiga com "y") só é possível por causa dos portugueses.

Só os portugueses - de todos os países colonizadores da história do mundo - é que transferiu a sua capital para um território ultramarino. A capital dos holandeses nunca foi na África do Sul, ou no Suriname ou na Indonésia. Mas a capital de Portugal já foi o Rio de Janeiro. Não percebem o que isso quer dizer? Quer dizer existir um povo que acredita em fundir-se com outro e dar origem a um povo maior. Esse povo maior é o Brasil.

Já agora, outro clichê quando se fala em portugueses no Brasil é a escravatura. Sim, os portugueses traficavam escravos. Também os holandeses e também todos os povos do mundo. Os próprios africanos foram os grandes inventores disso mesmo. Os romanos tinham escravos. Os egípcios tinham escravos. Os portugueses, como habitantes do planeta Terra e elementos da raça humana, tinham escravos. Apesar disso, em 1761, o Marquês de Pombal proibiu a entrada de novos escravos em Portugal continental.

Outro clichê, com o carimbo de propagação do grande Caetano Veloso (nome português) a quem, de vez em quando, dá vontade de dizer uns disparates, é que os portugueses só foram ao Brasil roubar ouro. Há no entando estudos que apontam para que hoje sejam extraídos por dia do Brasil mais recurssos naturais do que em todos os séculos em que Portugal e Brasil foram um só país.

Eu sei que toda essa angústia com a colonização vem de um trauma. Um trauma legítimo e com razão de ser. Mas há que fazer as pazes com o nosso passado. Nós portugueses fizemos as pazes com o povo que nos ocupou e, entre outros, nos criou: os romanos. Bem sei que leva tempo a sarar a ferida. Sei que hoje já ninguém sofreu diretamente as acções dos romanos, só as consequências. Mas os brasileiros também não dos portugueses. Os portugueses tiveram mais tempo para sarar a ferida, mas o meu ponto é que há muitas vantagens em sará-la. E sará-la o mais depressa possível, para que não fiquem órgãos tortos, ossos com altos, amnésia, cicatrizes grosseiras e feias. Eu como português, adoro os romanos. E bem sei que eles mataram muitos dos meus antepassados. Mas eu também sou descendente dos romanos. Tenho um pai romano que batia na minha mãe lusitana. Ou um pai celta-cristão que batia na minha mãe árabe. Ou um pai cristão que obrigou a minha mãe judia a converter-se ao cristianismo. Grandes tragédias, mas é preciso fazer as pazes com isso e não ficar a escarafunchar na ferida à procura de culpados. Quase todos os brasileiros têm no seu sangue o sangue dos culpados. Não adianta para nada fingir que esse sangue podia ser holandês, ou fingir que não é português, como todos os brasileiros não fossem em parte portugueses.

O Brasil é um país cheio de problemas, mas é um país. Sem os portugueses, não seria.

PS: E sem os Angolanos também não. Só quem nunca conheceu um angolano é que não sabe que a boa disposição brasileira vem diretamente de Angola. E Angola é um país lusófono. O Brasil também só o poderia ser sendo-o.

segunda-feira, 22 de março de 2010

O demónio está à espreita

O maior perigo de ter Fé neste tempo de ateísmo é achar que, por se aspirar ao Bem, se está automaticamente do lado do Bem, do lado dos bons, e, por consequência, se pode fazer o que se quiser porque se está na equipa certa.

É por este perigo que o único caminho que existe é o da humildade. A humildade de assumir que nada sei. Que o caminho para o Bem é muito longo. Que para se chegar lá é preciso rigor para não se enveredar por desvios. Saber onde se quer chegar não significa que saibamos o caminho.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Paz Quente

Depois da Guerra Fria temos uma paz fria.

Talvez seja preciso travar a guerra quente para instalar uma paz verdadeira.

domingo, 14 de março de 2010

Maestro

Um grande artista é alguém que consegue, ao reger os músicos à sua frente, reger, simetricamente com os mesmos gestos, os corações do seu público, atrás de si.

Com os mesmos gestos.




Matar e ressuscitar, com os mesmos gestos.

Magoar e amar com os mesmos gestos.

Destruir e construir com os mesmos gestos.

Gritar e cantar.

Dançar.

Boa Vontade

O motivo pelo qual não devemos julgar os outros é porque - independentemente de se o nosso juízo é justo ou não - de nada serve uma sociedade em que as pessoas pautam a sua acção pelo que os outros vão achar dela.

Cada um deve agir pelo Bem porque esse é o seu dever, não por medo das represálias caso não o faça. Tampouco deve praticar um suposto Bem pelo desejo do aplauso.

Deve cada um praticar o Bem porque acredita Nele.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Casar

A maioria das pessoas casadas não é feliz, mas isso não é culpa do casamento. Essas pessoas não seriam mais felizes se fossem solteiras. Pelo contrário provavelmente.

Morrer jovem

Hoje a maioria das pessoas morre jovem sem saber.

Poupa-se na heroina.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Mais uma pedra

(a sétima)

Today


Oh! kangaroos, sequins, chocolate sodas!
You really are beautiful! Pearls,
harmonicas, jujubes, aspirins! all
the stuff they've always talked about

still makes a poem a surprise!
These things are with us every day
even on beachheads and biers. They
do have meaning. They're strong as rocks.



- Frank O'Hara, 1950

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O que ninguém diz no meu país (está tudo a falar de escutas telefónicas ao Primeiro Ministro, ou de futebol ou de música pop)

O que ninguém diz é que, agora que nas sociedades ricas os jovens já não são a maioria da população, a lei de que os novos roubam os lugares aos velhos foi invertida pela lei de os novos são escravizados pelos velhos.

O que ninguém diz é que o egoísmo e ganância que levou a geração dos nossos pais a terem cada vez menos filhos para guardarem o dinheiro todo para si levou, no hemisfério norte, a uma civilização decadente de velhos. Europa, América Anglófona e até a China.

Em Portugal, o país mais velho do mundo em que tudo é medido em séculos, olhamos à volta e vemos todos os candidatos a Presidente da República Portuguesa com mais de 70 anos.

Vemos que vivemos numa sociedade em que no poder não estão os mais capazes, fortes ou viris, com todos os ganhos que isso traria, mas numa gerontocracia onde aqueles que, abortando todas as manifestações de força da juventude - nomeadamente através da estupidificação da mesma - se eternizam, seráficos, no topo.

Uma sociedade de velhos que não permitem a independência e liberdades dos filhos mantendo-os em casa até aos 30 anos. Que em lugar de lhes darem um chuto no cú os persuadem a ficar, no colinho do papá e da mamã, com direito a uma semanada para gastar em marijuana. Que os persuadem a, ao contrário deles, não cometerem esse erro terrível que é o de ter filhos, não fosse isso levá-los a mudar de postura.

Uma sociedade de Recibos Verdes, em que os novos trabalham e pagam impostos sem que isso lhes traga quaisquer benefícios junto da segurança social, já que esse dinheiro tem de ir para pagar o soro dos velhos senis que exigem ser mantidos vivos e que ultrapassam, em número, os novos.

Pessoas novas! Tomemos o lugar a estas pessoas que, para nosso mal e para o mal da civilização humana, não querem largar o poder! Ganhemos nós o dinheiro deles e, aqueles que tenham tido filhos, serão pelos seus filhos bem cuidados.

Não tenho ódio a ninguém. Tenho amor por todos, amor por todos aqueles que têm direito a ter uma vida e esta lhes é sugada por quem lha devia dar.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Amor

Amar como eu amo é sentir-me um farol que de repente soubesse que de tanto brilhar lhe iam conceder poder ser barco.

As velas

Sentado sozinho à mesa de um restaurante lisboeta penso

Noutro tempo, cada uma destas velas acesas seria pela alma de alguém.

A diferença entre um mundo decorativo e um mundo com alma.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Dos Segredos

Morrem segredos milenares, hoje.

Toda a sabedoria que só podia ser sabida pelas mulheres, passada de mãe para filha, de geração em geração desde a origem do mundo. Toda a sabedoria que só podia ser sabida pelos homens, passada de pai para filho, geração após geração desde o primeiro homem, morreu.

Morreu ou por ter sido descoberta, e pervertida, pelo sexo oposto, ou por ter sido calada para sempre como inútil.

Um cochicho mantido desde a origem do mundo, incessante, não-calado, um sussurrar de avó para neta, de irmão mais velho para irmão mais novo, morreu porque alguém disse que éramos todos iguais, que tanto fazia, que não havia nenhuma diferença entre homens e mulheres. E hoje somos todos iguais. Igualmente ignorantes.

Moças, se ainda tiverem uma avó, corram a perguntar-lhe como se lida com um Homem. Moços, se ainda tiverem um avô, perguntem-lhe como ser Homem.

Porque morrem segredos milenares, hoje.

Porque morrem em segredo, e são chorados com lágrimas de desconhecimento.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Um país-saudade

Os portugueses inventaram a Saudade.

Para haver a Saudade foi preciso alguém ter ido a algum lugar, e alguém ter ficado.

Viajámos Todo-o-Mundo.

E o país onde chegámos foi o Brasil.

Aí produzimos um país-saudoso-de-futuro, para com ele podermos ser para sempre assim, saudosos.

Lá repousa o meu Amor. Lá vivo.

E só agora compreendo realmente as palavras Vai minha tristeza,
e diz a ela que sem ela não pode ser,
diz-lhe, numa prece
Que ela regresse, porque eu não posso Mais sofrer.
Chega, de saudade
a realidade, É que sem ela não há paz,
não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai
Mas se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca,
dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim.
Não quero mais esse negócio de você longe de mim...



E só isto é que pode ser o Amor. O Amor impossível-possível. O Amor imerecido-merecido. O Amor que é eterno porque o Tempo que leva a senti-lo é todo o Oceano, é maior que o tempo de vida, é maior que nós. Só um Amor maior que nós é que é Amor.

E assim o meu coração bate-dói-dói, bate-dói-dói, e não sou mais que um trapo humano, um fantasma amoroso, um caco.

Sou finalmente uma pessoa.

Quando for enterrado no Kinkaku-ji, quero que esteja escrito na minha lápide:

Nascer pequeno e morrer grande, é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer toda a terra: para nascer, Portugal: para morrer o mundo.
. - Padre António Vieira


Não te esqueças amor.