sábado, 31 de julho de 2010

Um amor

O milagre de, com tão pouco, termos feito tanto.

Hoje, restam disso apenas algumas marcas. Como acontece com o grande império de Alexandre. 

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Povos

Se é tão forte a experiência de Deus quando se é parte do balanço oceânico, quando somos embalados pelo ritmo natural, que é também o do nosso coração, o que pensar da religiosidade de um povo que todo ele é e foi entregue ao mar? Deste povo que vive em barcos?

Deus encontra-se em todo o lado. Mas quando o procuramos nos espaços entre as coisas e não nas coisas, Ele é mais fácil de achar, pois não temos as coisas para nos distrair.

Os povos que vivem entre as coisas, nas ligações, no mar, no céu, no espaço, no deserto, no vazio da montanha, nas florestas profundas, sempre foram povos de Deus. Pois fomos privilegiados no nosso ponto de vista.

terça-feira, 27 de julho de 2010

O balanço também em nós

A diferença entre olhar o balanço do mar de fora da água - em que vemos mais, mas de um só ponto - e de olhar o balanço do mar dentro de água - em que vemos menos, mas o nosso ponto de vista é constantemente reajustado ao lugar novo que é o mesmo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O ritmo de Deus

não é o do mais profundo silêncio e imobilidade, embora esse nos possa fazer senti-Lo.

O ritmo de Deus é o balanço de quando nos entregamos sozinhos ao mar, e boiamos de acordo com a corrente. Onde o nosso parado passa a ser a cadência da vida.

E depois saímos para a areia como aquele embarcadiço que em terra andava segundo o sabor das ondas.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O drama

A condição essencial para o drama é a verdade.

Porque a verdade é sempre conflitual. Quando está viva.

É esta a beleza do mundo.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Não gosto de raparigas

Gosto de meninas. De moças. E de mulheres.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Uma mulher, a minha avó

Todo um gigantesco saber viver concentrado naquele guardanapo de papel sobre a tigela vazia na sala que esperava por nós em silêncio para que nela jantássemos.

domingo, 18 de julho de 2010

Viver para lá do amor

Vista do cimo do castelo de São Jorge, que nunca verás.

Que não verás e que por isso dentro de ti permanecerá para sempre de uma lindeza maior, um plano para sempre futuro.

Não foste a mulher que eu queria, foste a mulher que tinhas de ser

O nosso amor já morreu. Mas no meu pulso ainda não partiu a fita de quando fomos ao senhor do bom fim.

sábado, 17 de julho de 2010

Um amor

onde o corpo dela era as minhas mãos aprisionadas, a pedirem para sair e que eu tentava em vão arrancar delas mesmas.

Feitos para os outros

Somos feitos numa forma em que a capacidade que temos de fazer algo pelos outros é muito maior que a que temos de fazer algo por nós.

Por isso é muito mais produtivo quando todos ajudam os outros do que quando cada um se ajuda a si mesmo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

As obras e a pobreza

Os artistas levam ao limite essa característica humana transcendente que se manifesta quando olhamos para eles sem sabermos que eles o são - artistas - e eles se revelam aos nossos olhos como os seres mais ridículos do mundo, mas que depois, quando passamos a ter em conta a sua obra, faz com que fique claro que aquela pessoa para quem estamos a olhar é das pessoas mais incríveis que há.

Esta beatitude vem de as suas obras não terem como critérios o lucro (no sentido mais amplo da palavra).

Um artista só pode ser pobre. Porque a sua obra não tem preço.

sábado, 10 de julho de 2010

O lugar do outro

Numa conversa há aqueles que querem compreender o outro.

Há depois aqueles que estão mais interessados em corrigir o discurso do outro, em convencê-lo, em fazerem-se compreender a si mesmos, em superar o outro, em anulá-lo.

Como em qualquer relação. Há aqueles que querem sentir o que o outro sente. Viver o amor do outro e fazer desse amor o seu amor. E há os que querem obrigar o outro a compreendê-los, que querem que as suas exigências sejam atendidas, que o outro seja aquilo que eles querem.

Em tudo, há pelo menos duas maneiras de agir. A atenção ao que está fora de nós e a atenção ao que está dentro de nós.

Tentar compreender o outro ou tentar que o outro nos compreenda a nós.

Eu acredito que nos compreendemos a nós compreendendo o outro.

Para que serve estar com o outro se não for para o compreender? Sozinhos já estamos o resto do tempo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Aos que de nós nasceram com uma sensibilidade demasiado apurada, ou que, por outras palavras, não fecharam os olhos quando deviam

A sabedoria está com os que não olharam diretamente o sol.

Pois não deixaram de o fazer por cobardia,
mas porque a palpebra os fez fortes o suficiente
para conseguirem viver sem precisar ver a fonte da luz,
bastando-lhes aquilo que ela ilumina.

Aprenderam a confiar no sol
sem para isso terem de perder os olhos.
Pois deve haver sempre uma subtil película,
entre nós e os nossos sentimentos,
para nos permitir vivê-los.

Não é preciso ver toda a luz de uma só vez.

E por falar em cobardia,
haverá cobardia maior que a de não conseguir viver sem olhar diretamente o sol?

terça-feira, 6 de julho de 2010

A trágica escolha de uma vida

Vá lá senhora, chegou a hora.
Vá lá senhora, chegou a hora de escolher o seu par.
De escolher o seu par. Alguém para amar. Alguém para a amar.


Vá lá senhora, a hora é pouca.
Vá lá senhora, que o tempo esgota. Vá escolher o seu par.
Vá escolher o seu par. Alguém para amar. Alguém para a amar.


O sofrimento agonizante, sob o pavimento da escuridão.
Raparigas e rapazes, monumentos tão audazes.
Há azul na tua mão. Sangue inocente, palpitação.
Alegria, tradição, euforia, excitação, para escolher o seu par.
Para escolher o seu par. Alguém para amar. Alguém para a amar.



Uma grande banda é aquela que faz as canções que a nossa vida pede.

Vá Lá Senhora é a canção nova d'Os Golpes.

Manifesto II

Um outro nome para o calor?

Felicidade.

domingo, 4 de julho de 2010

Traição

Ele era um menino que não se importava de emprestar os seus brinquedos. Só não gostava que os outros os estragassem.

Todos aqueles legos, que outrora se ergueram tão altos, castelos firmes, com passagens secretas, com os seus cavaleiros com um dragão para cada um, ou a ilha dos piratas, que recebi no dia em que o meu irmão nasceu, ou as naves do planeta do gelo que demorei semanas a montar e com que brinquei um milhão de histórias, para enganar a solidão e que eram os meus únicos amigos, ou os caubóis, que já mais crescido, roubei no supermercado, abrindo as caixas e escondendo nas mangas do casaco, todos eles, despedaçados.

Isto é, não só desmanchados, mas com peças a faltar. Peças que nunca serão reencontradas.