sábado, 31 de dezembro de 2011

Que dois mil de doze seja um ano novo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A felicidade das temperaturas

Este está a ser o melhor inverno da minha vida.

Sempre fui do calor.

Mas este inverno decidi aceitar o sofrimento do frio em vez de o tentar contrariar.

O que aconteceu logo ao primeiro dia foi que passei a saborear a sensação que antes preconceituosamente discriminava como desagradável. Preconceitos sensoriais.

É como com a comida. Há pessoas que dizem que não gostam de umas comidas. Porquê? O que é não gostar? Arde a língua? Não percebo. Eu gosto de todas as comidas. Claro, umas mais que doutras. Mas não gostar parece tão exagerado.

Devemos ter muita atenção às coisas que sentimos.

Às vezes pensamos que estamos a sentir algo desagradável mas é só porque alguém nos convenceu que era, e outra pessoa tinha convencido essa e afinal era tudo só um mito urbano porque não tinhamos tido tempo de perceber (porque ficámos com medo ou quisemos agradar àquela pessoa ou estávamos com pressa). Mas, se prestarmos atenção, descobrimos que as sensações são o que são.

É por isso que este ano estou a recusar todas as fontes de temperaturas artificiais. Não ligarei nem um aquecedor. Não irei nunca descontinuar a temperaturização do meu corpo pela natureza. Claro que ando bem agasalhado, mas aí é o meu calor que fica guardado nas minhas roupas, não é um calor de uma máquina. A temperatura é uma coisa tão íntima. Como é que as pessoas deixam que as máquinas se intrometam?

Até agora está a correr bem, porque pela primeira vez o meu corpo consegue habituar-se ao frio. E quem me diz que nessa habituação não há ainda outras coisas que se transformam em mim? É que tudo pode ter consequências e, afinal, o corpo foi feito para a terra e quando criamos situações artificiais podemos nem saber no que estamos a mexer. Se calhar os problemas todos do mundo resolviam-se se nos livrássemos dos aquecedores. Quem é que sabe?

É como andar à porrada. As pessoas dizem que é mau. Como é que sabem? Levar uns murros pode ser bom. Fazer bem. À pele por exemplo.

Por exemplo, se não houvesse aquecedores, as pessoas tinham frio e abraçavam-se mais. Quem sabe assim surgiam mais pretextos para o amor? É que se a nossa temperatura é nossa, se vem do nosso corpo, então não há coisa melhor que partilhar a nossa temperatura com outra pessoa e aquecer a pessoa de quem gostamos. Mas se ela nunca tem frio porque está sempre de aquecedor ligado, como podemos amá-la?

Estive aqui na terra todos estes anos e ainda nem sabia o que era o Inverno. A vida está mesmo sempre só a começar. Nem sequer faço ideia das coisas que vou aprender para o ano. Por isso, nada de precipitações, e bolinha baixa com as opiniões sobre as coisas da vida e isso tudo.